Na edição de 6 de fevereiro deste ano (já faz um tempinho isso...), as Páginas
Amarelas de Veja entrevistaram o agora ex-Ministro da Educação do Governo Bolsonaro. À pergunta “Se o senhor fosse trocar
o busto de Paulo Freire no MEC, quem colocaria no lugar?”, Ricardo Vélez
Rodríguez respondeu:
“Do século XIX, Tobias Barreto. Do
século XX, Antonio Paim. Do século XXI, Olavo de Carvalho. [...]”
Frente a tais opções, creio ser preferível,
além de pertinente, um busto de José Guilherme Merquior. Em reconhecimento
a um dos maiores intelectuais da América Latina de todos os tempos, autor cuja
obra revela ostensiva, permanente preocupação com a educação brasileira.
O Ministro, quem ratificou na entrevista uma
declaração sua anterior, de que a universidade “representa [no sentido de "deveria representar"]
uma elite intelectual”, não sendo um
lugar para todos, praticamente repete Merquior, que criticava, já nos anos
70, o “imperativo da democratização do ensino, [que] vem destruindo [...] o
[...] elitismo da universidade
tradicional – o seu legítimo aristocracismo
intelectual”.
Nestes tempos de incompreensão de muitas palavras
ditas e ouvidas, escritas e lidas, convém frisar: “elitismo” e
“aristocracismo” não se referem, nesse contexto, a qualquer elitismo econômico, nem a qualquer aristocracismo social, mas, sim, - exclusivamente - intelectual. Acresce que este texto não
se propõe a desqualificar o legado pedagógico de Paulo Freire, reconhecido em
diversos meios acadêmicos europeus e americanos.
Para os que, ainda assim, torcem, retorcem e
contorcem o nariz para a defesa de um elitismo (ou aristocracismo) intelectual
como parâmetro universitário, nós – professores e alunos brasileiros do ensino
superior – podemos dizer muitas verdades... Apenas uma delas: não há certa
sensação em nosso meio de normalidade a respeito de grande parte dos trabalhos
acadêmicos discentes não passarem de plágios mal disfarçados?