sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Socialismo, comunismo e anarquismo: uma diferenciação conceitual

Tendo em vista que muitos alunos me solicitam a diferenciação entre os termos acima, posto transcrição de trecho da introdução a O socialismo brasileiro, coletânea de textos organizada por Evaristo de Moraes Filho. Na passagem abaixo, o autor – diga-se de passagem, militante socialista – considera especialmente o contexto de meados do século XIX até meados do XX, e esclarece que:

“Em certos momentos e em determinados casos extremos, torna-se mais fácil distinguir entre anarquismo, comunismo (marxismo) e socialismo. Apelava o primeiro para a ação direta, para a violência, para o terrorismo, se necessário, e para a plena liberdade do indivíduo, com total supressão do Estado, sempre opressor e de classe. Isto em sua forma típica, pura. O segundo reconhece na luta de classe a força propulsora da história, acreditando que a natureza e a sociedade podem dar saltos, fazendo da revolução o instrumento de ascensão do proletariado e seus aliados, instalando-se a sua ditadura, como período indispensável ao desaparecimento das classes e advento definitivo do regime comunista. Só então o Estado se tornará desnecessário e inútil, por não haver mais classe dominante e classe dominada. O terceiro prega também a socialização dos meios de produção e da propriedade em geral, concorda com os anarquistas quanto à ação direta (greve) e quanto aos comunistas no que se refere à luta de classes, mas não concorda com a revolução como único caminho de mudanças e nem com a ditadura do proletariado. Quer acabar com as classes e instalar uma sociedade verdadeiramente socialista, mas que o seja também verdadeiramente humanista e democrática, livre, aberta, pluralista, mas desde que se respeite o princípio fundamental da socialização da propriedade.” (p.55)

(MORAES FILHO, Evaristo de. O socialismo brasileiro. Biblioteca do pensamento político republicano. Brasília: Editora UnB, 1981.)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

“A trincheira”, de Vicente Huidobro

Sobre o canhão
Cantava um rouxinol
                        Perdi meu violino

A trincheira
Circunda a Terra
                        Que frio
                                   Todos os pais vestidos de soldado

Alguém assobia atrás de sua própria vida
CROANA                  VERDUN                  ALSÁCIA
                            Formoso branco é a lua

A sombra de um soldado
Jazia num agulheiro
            Pode ver-se no solo ensanguentado
            O aviador que feriu a cabeça contra uma     
                                               estrela apagada

E melhor que um cão
O canhão vigia
                                   Às vezes ladra
                                   À
                                                           LUA

Todas as estrelas são agulheiros de obuses.

Halalí, 1914

(Trad. Antônio Risério in HUIDOBRO, Vicente. Altazor e outros poemas. São Paulo: Art Editora, 1991. p.183)