terça-feira, 24 de maio de 2016

Merquior: de direita ou de esquerda?

Em entrevista a edição da revista VEJA de 1981, José Guilherme Merquior declarou que “uma atitude intelectualmente séria é não tratar com categorias maniqueístas”, e à pergunta – “Entre a esquerda e a direita, onde é que o senhor fica?” – respondeu nestes termos que ainda hoje têm algo a ensinar:

Alguém definiu admiravelmente bem as pessoas de minha posição ideológica. Foi o polonês Leszek Kolakowski, num texto que é uma pérola – “como ser conservador, liberal e socialista”. No fundo da visão conservadora, existe um elemento muito positivo, que consiste em acreditar que nem todos os males humanos têm causas sociais, sendo portanto elimináveis através de mudanças sociais. Do lado liberal, a ideia básica, também verdadeira, é que a finalidade do Estado é dar segurança, sem esclerosar a sociedade com um sistema demasiado refratário à iniciativa individual. Enfim, o socialismo tem de válida a ideia de que o pessimismo antropológico, por trás da posição conservadora, não deve ter o poder absolutista de evitar as reformas sociais citadas pelo reformismo esclarecido.


segunda-feira, 9 de maio de 2016

Liberalismo e democracia na lição de Norberto Bobbio


“[...] o estado liberal é o pressuposto não somente histórico, mas jurídico do estado democrático. Estado liberal e estado democrático são interdependentes de dois modos: na direção que vai do liberalismo rumo à democracia, no sentido em que são necessárias certas liberdades para o exercício correto do poder democrático, e na direção oposta, que vai da democracia rumo ao liberalismo, no sentido em que é necessário o poder democrático para garantir resistência e persistência das liberdades fundamentais. Em outras palavras: é pouco provável que um estado não liberal possa assegurar um correto funcionamento da democracia, e, por outro lado, é pouco provável que um estado não democrático esteja em condições de garantir as liberdades fundamentais. A prova histórica dessa interdependência reside no fato de que estado liberal e estado democrático, quando caem, caem juntos.”

(in Il futuro della democrazia. 3ª ed. Turim: Corriere della Sera, 2010. p.15)