Em entrevista a edição da revista VEJA de 1981, José Guilherme Merquior declarou
que “uma atitude intelectualmente séria é não tratar com categorias
maniqueístas”, e à pergunta – “Entre a esquerda e a direita, onde é que o
senhor fica?” – respondeu nestes termos que ainda hoje têm algo a ensinar:
Alguém definiu admiravelmente bem as
pessoas de minha posição ideológica. Foi o polonês Leszek Kolakowski, num texto
que é uma pérola – “como ser conservador, liberal e socialista”. No fundo da
visão conservadora, existe um elemento muito positivo, que consiste em
acreditar que nem todos os males humanos têm causas sociais, sendo portanto
elimináveis através de mudanças sociais. Do lado liberal, a ideia básica,
também verdadeira, é que a finalidade do Estado é dar segurança, sem esclerosar
a sociedade com um sistema demasiado refratário à iniciativa individual. Enfim,
o socialismo tem de válida a ideia de que o pessimismo antropológico, por trás
da posição conservadora, não deve ter o poder absolutista de evitar as reformas
sociais citadas pelo reformismo esclarecido.
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