Quarta-feira
(10 de junho), a convite do prof. Dr. Osmar Pereira Oliva, tive a alegria de
pronunciar a comunicação “Machado de Assis impressionista: a compreensão
crítica e historiográfica de José Guilherme Merquior”, no IX Seminário de Literatura
Brasileira, realizado no campus da
Unimontes, em Montes Claros-MG.
Nesse
evento, de respeitável tradição e muitíssimo bem organizado, com direito a
números musicais de qualidade, tomei por bibliografia básica, de Merquior, os
textos “Estilos históricos na literatura ocidental”, publicado em Teoria literária (1975) pela editora
Tempo Brasileiro, e capítulo referente a Machado de Assis que integra De Anchieta a Euclides, livro que
recebeu sua quarta edição ano passado, pela É Realizações.
Minha
comunicação partiu da defesa merquioriana da noção de estilos de época (ou,
como preferia o ensaísta de O véu e a
máscara, “estilos históricos”) em contexto de ataque estruturalista à
abordagem historiográfica da literatura, na década de 1970. Em seguida, caracterizou-se
o impressionismo literário, segundo Merquior, assinalando as razões desse
incomum enquadramento estilístico da obra machadiana. O terceiro passo da
comunicação consistiu em averiguar as consequências de tal compreensão no que se
refere tanto ao romancista carioca quanto ao crítico conterrâneo. No primeiro
caso, Machado de Assis figuraria como um dos quatro pilares da prosa
tardo-oitocentista brasileira, ao lado de Joaquim Nabuco, Euclides da Cunha e
Rui Barbosa, nomes pouco frequentes nas listas de autores em nossos manuais de literatura,
universitários e de ensino médio. Além disso, o criador de Capitu seria aproximado
de Henry James e Marcel Proust, de modo a destacar ainda mais a modernidade do escritor
brasileiro. No caso de José Guilherme Merquior, viria a revelar-se injustificável
a pecha de conservador que tantos insistem ainda hoje em imputar-lhe, na medida
em que, se não contesta propriamente os fundamentos do cânone, acaba por procurar
reformulá-lo, no fito de se alcançar maior justiça de avaliação e melhor entendimento
da literatura, nacional ou ocidental.
Trata-se,
a meu ver, da mesma lógica que subjaz as críticas merquiorianas à antimodernidade
das vanguardas euromodernistas, assim como a cobrança merquioriana de uma visão
constantemente crítica, por parte dos escritores, sobre a sociedade, ainda que burguesa
e liberal. O aparente paradoxo se dissipa, se nos damos conta de que se pode criticar
o funcionamento de um sistema, sem necessariamente contestar o sistema, com o objetivo
de eliminar as naturais imperfeições de sua realidade.
A
comunicação deverá ser publicada em livro que abrangerá a temática de todo o evento,
“o romance oitocentista: variações e diversidades”.
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