sexta-feira, 3 de julho de 2015

Bibliografia passiva merquioriana 1

Com este post damos início a uma série na qual apresento, em caráter de resenha sucinta sucintíssima, um micro-conjunto de textos sobre a vida e a obra de José Guilherme Merquior. Essa iniciativa procura complementar os comentários aqui publicados sobre o pensamento merquioriano – uma bibliografia ativa.

Ø  “O fenômeno Merquior”, de José Mario Pereira. In COSTA E SILVA, Alberto (org.). O Itamaraty na cultura brasileira. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 2002. pp.475-506. Também in MERQUIOR, José Guilherme. Verso universo em Drummond. 3ª ed. São Paulo: É Realizações, 2012. pp.327-361. E ainda disponível em <>.
Trata-se do mais célebre, e incontornável, texto sobre José Guilherme Merquior; espécie de escorço biográfico, com enfoque na vida intelectual e comentários sobre a obra do ensaísta.  Escrito como homenagem-efeméride ao amigo, entre 11 e 20 de fevereiro de 2001 (dez anos, portanto, após a morte do biografado), compreensivelmente aí predomina a nota, antecipada pelo próprio título, do enaltecimento. Contudo, colhem-se informações importantes e compreensões interessantes sobre Merquior. José Mário Pereira é jornalista, e editou, pela Topbooks, Razão do poema (1995), De Anchieta a Euclides (1996) e A astúcia da mimese (1997).

Ø  “Um certo Merquior”, de Luiz Costa Lima. In LIMA, Luiz Costa. Intervenções. São Paulo: Edusp, 2002. pp.399-403.
Pequeno texto publicado originalmente em jornal. Discussão concentrada em apenas três títulos: Razão do poema, A astúcia da mímese e Formalismo e tradição moderna. Ressalta-se aí a contribuição de Merquior para o reconhecimento crítico do modernismo brasileiro e para o conhecimento de João Cabral de Melo Neto. Também se definem, no artigo, as limitações e as transformações do pensamento de Merquior (o distanciamento, na maturidade, do postulado nacionalista e das influências lukacsianas de juventude; o entendimento insatisfatório acerca do romantismo alemão, p. ex.). Luiz Costa Lima, um dos mais renomados teóricos e críticos da literatura no Brasil, conheceu Merquior pessoalmente, tendo havido admiração intelectual recíproca.

Ø  “Merquior, paladino da racionalidade concreta”, de Miguel Reale. In REALE, Miguel. Figuras da inteligência brasileira. 2ª ed. refund. e aum. Rio de Janeiro: Rocco, 1994. pp.165-183.

Excelente análise (o melhor, na minha opinião, do que se escreveu sobre o tema) desse que já tinha sido homenageado, por sua vez, pelo provavelmente último texto de Merquior, em “Situação de Miguel Reale”, publicado no volume Direito, política, filosofia, poesia (ed. Saraiva, 1992). Aborda com propriedade esclarecedora a parcela tanto literária e estética quanto filosófica e política do pensamento de José Guilherme Merquior, confirmando a integralidade dessas duas dimensões na obra em questão. Destaco o que Reale ensina a respeito da polêmica, como resultado de um anseio comunicativo e de um espírito dialógico – não autoritário e dogmático. Com a ideia de “racionalidade concreta”, o renomado jurista ilumina a perspectiva histórica e progressista (nem à Hegel, nem à Spencer) da obra de José Guilherme Merquior.

Ø  “Merquior vivo”, de Sergio Paulo Rouanet. In ROUANET, Sergio Paulo. Mal-estar na modernidade. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. pp.294-303.

Outro amigo de José Guilherme Merquior, o também diplomata Rouanet presta nesse texto homenagem comovida, sem deixar de se concentrar no objetivo de elucidar o conjunto da obra do homenageado. Para o autor de Mal-estar na modernidade, a plataforma de militância intelectual expressa em As ideias e as formas (1981) – ataque ao marxismo, à psicanálise e à arte de vanguarda – constituiria um dos fios condutores para compreendermos o pensamento merquioriano. Sergio Paulo Rouanet observa que o engajamento nessa postura crítica não implicou refutar as contribuições e rejeitar a grandeza histórica de Karl Marx, de Freud e dos artistas e escritores do alto modernismo, especialmente europeu. Por ocasião das duas homenagens ao ensaísta de Razão do poema na ABL (a de 10 anos de sua morte, em 2001, e a de 70 anos de seu nascimento, em 2011), o também acadêmico Rouanet reiterou o argumento central desse texto.

Ø  “A visão do mundo de José Guilherme Merquior: esta reedição”, de João Cezar de Castro Rocha. In MERQUIOR, José Guilherme. O liberalismo: antigo e moderno. 3ª ed. São Paulo: É Realizações, 2014. pp.311-324.
Esse posfácio da mais recente edição do último livro de Merquior considera tanto certos procedimentos discursivos da sua obra como um todo quanto as especificidades ideológicas de O liberalismo: antigo e moderno (1ª ed. 1991). João Cezar de Castro Rocha, professor de Literatura da UERJ, reconhecido internacionalmente, coordena o projeto Biblioteca José Guilherme Merquior, reedição de todos os livros do autor falecido pela É Realizações. O texto de Castro Rocha detecta, no pensamento merquioriano, uma (inusitada, diga-se de passagem) postura antropofágica à Oswald de Andrade, dentre cujas atitudes teria havido a de inverter o caminho das contribuições de eminentes intelectuais europeus residentes em solo brasileiro, no século passado. Se o austríaco Otto Maria Carpeaux divulgava e discutia, no Brasil, a cultura e as ideias do Velho Continente, Merquior, um nativo, não apenas fazia o mesmo no próprio País, mas também em terras alheias, publicando títulos em idiomas de ampla circulação (inglês e francês). Prof. João Cezar também, nesse posfácio, faz a gentileza de distinguir o liberismo – política econômica que concede máxima liberdade ao funcionamento do mercado – do liberalismo merquioriano como visão de mundo, o qual contempla horizonte bem mais amplo do que o da economia somente.

2 comentários:

  1. estou lendo "O Liberalismo" dele, apesar de "um pouco árido", é uma ótima leitura. Abraços

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    1. Prezado Gabriel,

      muita satisfação com sua visita ao blog! Quanto a "O liberalismo", apesar dessas dificuldades, vale mesmo a pena concluir a leitura desse livro. Já leu "A natureza do processo", também de Merquior? O tema também é o liberalismo, com acento em sua defesa, não tanto em sua história, mas com linguagem mais acessível - ou, como diz o próprio autor, "aquém do jargão e além do chavão".

      Grande abraço!

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