Com
este post damos início a uma série na
qual apresento, em caráter de resenha sucinta sucintíssima, um micro-conjunto
de textos sobre a vida e a obra de José Guilherme Merquior. Essa iniciativa
procura complementar os comentários aqui publicados sobre o pensamento
merquioriano – uma bibliografia ativa.
Ø “O fenômeno Merquior”, de José
Mario Pereira. In COSTA E SILVA, Alberto (org.). O Itamaraty na cultura brasileira. Rio
de Janeiro: Francisco Alves, 2002. pp.475-506. Também in MERQUIOR, José
Guilherme. Verso universo em Drummond.
3ª ed. São Paulo: É Realizações, 2012. pp.327-361. E ainda disponível em <>.
Trata-se
do mais célebre, e incontornável, texto sobre José Guilherme Merquior; espécie
de escorço biográfico, com enfoque na vida intelectual e comentários sobre a
obra do ensaísta. Escrito como
homenagem-efeméride ao amigo, entre 11 e 20 de fevereiro de 2001 (dez anos,
portanto, após a morte do biografado), compreensivelmente aí predomina a nota,
antecipada pelo próprio título, do enaltecimento. Contudo, colhem-se
informações importantes e compreensões interessantes sobre Merquior. José Mário
Pereira é jornalista, e editou, pela Topbooks, Razão do poema (1995), De
Anchieta a Euclides (1996) e A
astúcia da mimese (1997).
Ø “Um certo Merquior”, de Luiz Costa
Lima. In LIMA, Luiz Costa. Intervenções. São Paulo: Edusp, 2002. pp.399-403.
Pequeno
texto publicado originalmente em jornal. Discussão concentrada em apenas três
títulos: Razão do poema, A astúcia da mímese e Formalismo e tradição moderna.
Ressalta-se aí a contribuição de Merquior para o reconhecimento crítico do
modernismo brasileiro e para o conhecimento de João Cabral de Melo Neto. Também
se definem, no artigo, as limitações e as transformações do pensamento de
Merquior (o distanciamento, na maturidade, do postulado nacionalista e das
influências lukacsianas de juventude; o entendimento insatisfatório acerca do
romantismo alemão, p. ex.). Luiz Costa Lima, um dos mais renomados teóricos e
críticos da literatura no Brasil, conheceu Merquior pessoalmente, tendo havido
admiração intelectual recíproca.
Ø “Merquior, paladino da
racionalidade concreta”, de Miguel Reale. In REALE,
Miguel. Figuras da inteligência
brasileira. 2ª ed. refund. e aum. Rio de Janeiro: Rocco, 1994. pp.165-183.
Excelente
análise (o melhor, na minha opinião, do que se escreveu sobre o tema) desse que
já tinha sido homenageado, por sua vez, pelo provavelmente último texto de
Merquior, em “Situação de Miguel Reale”, publicado no volume Direito, política, filosofia, poesia
(ed. Saraiva, 1992). Aborda com propriedade esclarecedora a parcela tanto
literária e estética quanto filosófica e política do pensamento de José Guilherme
Merquior, confirmando a integralidade dessas duas dimensões na obra
em questão. Destaco o que Reale ensina a respeito da polêmica, como resultado
de um anseio comunicativo e de um espírito dialógico – não autoritário e
dogmático. Com a ideia de “racionalidade concreta”, o renomado jurista ilumina
a perspectiva histórica e progressista (nem à Hegel, nem à Spencer) da obra de
José Guilherme Merquior.
Ø “Merquior vivo”, de Sergio Paulo
Rouanet. In ROUANET, Sergio Paulo. Mal-estar na modernidade. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
pp.294-303.
Outro
amigo de José Guilherme Merquior, o também diplomata Rouanet presta nesse texto
homenagem comovida, sem deixar de se concentrar no objetivo de elucidar o
conjunto da obra do homenageado. Para o autor de Mal-estar na modernidade, a plataforma de militância intelectual
expressa em As ideias e as formas
(1981) – ataque ao marxismo, à psicanálise e à arte de vanguarda – constituiria
um dos fios condutores para compreendermos o pensamento merquioriano. Sergio
Paulo Rouanet observa que o engajamento nessa postura crítica não implicou refutar as contribuições e rejeitar a grandeza histórica de
Karl Marx, de Freud e dos artistas e escritores do alto modernismo,
especialmente europeu. Por ocasião das duas homenagens ao ensaísta de Razão do poema na ABL (a de 10 anos de
sua morte, em 2001, e a de 70 anos de seu nascimento, em 2011), o também
acadêmico Rouanet reiterou o argumento central desse texto.
Ø “A visão do mundo de José Guilherme
Merquior: esta reedição”, de João Cezar de Castro Rocha.
In MERQUIOR, José Guilherme. O liberalismo:
antigo e moderno. 3ª ed. São Paulo: É Realizações, 2014. pp.311-324.
Esse
posfácio da mais recente edição do último livro de Merquior considera tanto certos
procedimentos discursivos da sua obra como um todo quanto as especificidades ideológicas
de O liberalismo: antigo e moderno (1ª
ed. 1991). João Cezar de Castro Rocha, professor de Literatura da UERJ, reconhecido
internacionalmente, coordena o projeto Biblioteca
José Guilherme Merquior, reedição de todos os livros do autor falecido pela
É Realizações. O texto de Castro Rocha detecta, no pensamento merquioriano, uma
(inusitada, diga-se de passagem) postura antropofágica à Oswald de Andrade, dentre
cujas atitudes teria havido a de inverter o caminho das contribuições de eminentes
intelectuais europeus residentes em solo brasileiro, no século passado. Se o austríaco
Otto Maria Carpeaux divulgava e discutia, no Brasil, a cultura e as ideias do Velho
Continente, Merquior, um nativo, não apenas fazia o mesmo no próprio País, mas também
em terras alheias, publicando títulos em idiomas de ampla circulação (inglês e francês).
Prof. João Cezar também, nesse posfácio, faz a gentileza de distinguir o liberismo
– política econômica que concede máxima liberdade ao funcionamento do mercado –
do liberalismo merquioriano como visão de mundo, o qual contempla horizonte bem
mais amplo do que o da economia somente.
estou lendo "O Liberalismo" dele, apesar de "um pouco árido", é uma ótima leitura. Abraços
ResponderExcluirPrezado Gabriel,
Excluirmuita satisfação com sua visita ao blog! Quanto a "O liberalismo", apesar dessas dificuldades, vale mesmo a pena concluir a leitura desse livro. Já leu "A natureza do processo", também de Merquior? O tema também é o liberalismo, com acento em sua defesa, não tanto em sua história, mas com linguagem mais acessível - ou, como diz o próprio autor, "aquém do jargão e além do chavão".
Grande abraço!