Is it necessary to stress that the patrimonial
state is deeply inimical to all kinds of liberty, old (feudal) as well as new (liberal
democratic)? If such is, as indeed it is, the lesson of history, then sensible
Latin Americans should worry less about the links between their waning
authoritarian regimes and foreign
capital and more about those who would readily deliver their countries to far
more repressive power structures.
José Guilherme Merquior (in “Power and Identity:
politics and Ideology in Latin America”)
A edição do 19º volume / número 2 da revista acadêmica
londrina Minerva, dedicada a temas da área de ciência, educação e política, contou
com a colaboração de José Guilherme Merquior. Publicada na primavera de 1984,
teve por tema Government and Opposition:
from authoritarian to representative government in Brazil and Argentina, e –
como não poderia deixar de ser – nela consta texto do próprio co-editor brasileiro,
intitulado “Power and Identity: Politics and Ideology in Latin America”.
Esse ensaio principia por traçar um painel histórico
das reflexões político-ideológicas sobre a América latina, vasto território
cujas condições sócio-econômicas contrastam com o desenvolvimento, em todos os
setores, de Estados Unidos e Canadá. A tônica da compreensão e explicação
hegemônicas, produzidas por intelectuais e estudiosos latino-americanos, como
se sabe, consiste no posicionamento de esquerda, em grande parte dos autores de
índole marxista. Em síntese e generalização, a culpa de nosso
subdesenvolvimento recairia, nas suas origens, no sistema colonial europeu e, posteriormente,
nas amarras do sistema capitalista, que nos teria imposto uma relação desigual
e subalterna de dependência dos países ricos liderados pela política econômica norte-americana.
Arauto do liberalismo (em matéria econômica,
política e cultural), José Guilherme Merquior não se deixa convencer por essa
linha de discurso. Nesse curto ensaio de cerca de 12 páginas, põe-se a
esmiuçá-la, expondo os problemas de uma abordagem escorada no propósito muito
maior de pregar ao leitor a própria ideologia do que de analisar os fatos.
Nessa perspectiva, assinala Merquior, após um
período, especialmente entre os séculos XVIII e XIX, no qual os intelectuais
latino-americanos se esforçaram em defender e fomentar um desenvolvimento que
tomava a industrialização e o liberalismo europeus como modelo, criou-se a
ideia de que a América Latina deveria, pelo contrário, confrontar, no presente,
a origem colonial gestada pelo Velho Continente, no objetivo de fazer despertar
uma suposta autenticidade cultural do Novo Continente. Sobre isso comenta Merquior:
Thus
“authenticity” – the dubious result of a mystical quest for collective identity
– was soon established as an ideological barrier against the legitimation of
economic and social modernization in Latin America. (1984, p.241)
O projeto cultural anti-europeu, ou anti-ocidental,
acabou por cair em mãos da esquerda marxista. A Revolução Cubana (1959) deu o
exemplo de como era possível concretizar esse projeto libertador, entusiasmando a maior parte da esquerda latino-americana.
A onda de regimes ditatoriais, que então não demoraria a marcar a história de Brasil,
Argentina, Uruguai e Chile (nas décadas de 60, 70 e 80), viria a evidenciar
mais ainda, aos olhos dos teóricos da dependência, a face cruel da modernização
capitalista e do imperialismo norte-americano. Todavia, José Guilherme Merquior recorda a anedota tão
esclarecedora:
The Spanish
novelist Juan Goytisolo, who spent a decade in [Fidel] Castro’s Cuba and
returned fairly disillusioned, once wrote that before revolution Cuba suffered from three
drawbacks: monoculture (the sugar economy), military despotism and extreme
dependency on a foreign power, whereas under Castro it has known three main
evils: monoculture, military despotism and extreme dependency on a foreign
(this time considerably farther) power… (1984, p.242)
Tendo sido publicada a revista em 1984, sem dúvida o
ensaísta brasileiro visava à crise econômica que então castigava a população do
Brasil e de países vizinhos. De fato, estagnação da economia e inflação
altíssima pareciam, mais uma vez, dar credibilidade às teorias de dependência,
que, aliás, atribuíam aos interesses da economia capitalista o advento dos
regimes autoritários no Cone Sul. Para Merquior, a tese não sustentaria, uma vez que “the capitalist
crises actually seems to be undermining,
rather than strengthening, authoritarianism in Latin America”. (1984,
p.245)
Profundo conhecedor da história ocidental e das
teorias com as quais concordava e discordava, o autor de O argumento liberal revela-se também nesse texto tão atual quanto
35 anos atrás. Seu alerta ainda é válido. Menos mérito de Merquior do que
demérito nosso.
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