Este será o terceiro e último post dedicado à comunicação “Le modernisme et après le modernisme
dans la littérature brésilienne” pronunciada por José Guilherme Merquior no
Colóquio de Cerisy (França) de 1978. Hoje
terminam nossas considerações acerca do que Merquior respondeu a diversos
acadêmicos presentes no evento.
Antes de propriamente darmos sequência ao post anterior (de 22 de maio),
gostaríamos de enfatizar que, tanto na comunicação quanto em suas respostas,
Merquior estabeleceu distinções entre o modernismo europeu e o modernismo
brasileiro, de modo a demarcar como uma das conquistas do último uma autonomia
inédita na história literária do Brasil em relação às influências culturais do
Velho Continente. Nossos modernistas teriam sido bem sucedidos na descoberta identitária do País, desde os
esforços românticos nesse mesmo sentido. A propósito, devemos atentar-nos para
o fato de Merquior preservar a palavra portuguesa – modernismo – na sua comunicação em língua francesa, com o evidente
objetivo de destacar as particularidades estéticas, históricas e sociais do
movimento artístico em solo brasileiro.
Para não tornar este post demasiado extenso, ater-nos-emos a três pontos:
1)
Em linha de pensamento contrária à
prestigiada pelos Estudos Culturais, José Guilherme Merquior ratifica a
inserção cultural do Brasil no Ocidente, em meio à Europa, aos Estados Unidos e
Canadá. Nas suas palavras: “[...]
nous [les brésiliens] faisons partie intégrante de l’Occident, mais il y a plusieurs
façons d’être occidental!” (p.208) [Tradução: “[...] nós [brasileiros]
fazemos parte integrante do Ocidente, mas há diversas maneiras de ser ocidental!”]
2)
Mímese figura como um dos conceitos mais
importantes da crítica-estética merquioriana, e Benedito Nunes chegou por isso a
distinguir o autor de A astúcia da mímese
(1972) ao lado de Luiz Costa Lima. Na
comunicação de Cerisy, Merquior recorre à antiquíssima noção, esclarecendo: “Le
concept aristotélicien de mimésis est encore vivant, heureusement, mais il
n’est plus incontesté et certains le rejettent.” [Trad: “O conceito
aristotélico goza ainda de vitalidade, felizmente, mas não é mais incontestado
e alguns o rejeitam.”] // No entanto, acreditava o ensaísta brasileiro que “tout
art implique, d’une manière ou d’une autre, une mimésis, même si ce n’est pas
une représentation « naturaliste ».” [trad: “toda arte implica, de uma
maneira ou de outra, uma mímése, mesmo se não se trata de uma representação ‘naturalista’.”]
3)
Merquior não dedicou muitas linhas às
obras de Guimarães Rosa, de Clarice Lispector. Nessa comunicação, há passagens preciosas
que registram a compreensão merquioriana sobre o romancista mineiro, como a
seguinte: Guimarães Rosa: “[...] avec
Guimarães Rosa le régionalisme a fini son cycle dans la littérature
brésilienne. Rosa a universalisé
le régionalisme en lui prêtant une dimension orphique et gnostique, il a tenté
et réussi une fusion superbe des techniques et de la sophistication du roman
psychologique avec la tradition thématique régionale. Pour moi, son oeuvre
referme le cycle régionaliste tout en l’universalisant, au lieu de le
revitaliser.” (p.209) [Trad. “[...] com Guimarães Rosa o regionalismo
pôs fim a seu ciclo na literatura brasileira. Rosa universalizou o regionalismo,
conferindo-lhe uma dimensão órfica e gnóstica, ele realizou com maestria uma
fusão soberba das técnicas e da sofisticação do romance psicológico com a tradição
temática regional. Para mim, sua obra conclui o ciclo regionalista,
universalizando-o totalmente, em vez de o revitalizar.”]
Nenhum comentário:
Postar um comentário