sexta-feira, 21 de junho de 2019

“O modernismo e depois do modernismo na literatura brasileira” [Parte 3]: perguntas e respostas após a comunicação


Este será o terceiro e último post dedicado à comunicação “Le modernisme et après le modernisme dans la littérature brésilienne” pronunciada por José Guilherme Merquior no Colóquio de Cerisy (França) de 1978. Hoje terminam nossas considerações acerca do que Merquior respondeu a diversos acadêmicos presentes no evento.
Antes de propriamente darmos sequência ao post anterior (de 22 de maio), gostaríamos de enfatizar que, tanto na comunicação quanto em suas respostas, Merquior estabeleceu distinções entre o modernismo europeu e o modernismo brasileiro, de modo a demarcar como uma das conquistas do último uma autonomia inédita na história literária do Brasil em relação às influências culturais do Velho Continente. Nossos modernistas teriam sido bem sucedidos na descoberta identitária do País, desde os esforços românticos nesse mesmo sentido. A propósito, devemos atentar-nos para o fato de Merquior preservar a palavra portuguesa – modernismo – na sua comunicação em língua francesa, com o evidente objetivo de destacar as particularidades estéticas, históricas e sociais do movimento artístico em solo brasileiro.    
Para não tornar este post demasiado extenso, ater-nos-emos a três pontos:

1)                 Em linha de pensamento contrária à prestigiada pelos Estudos Culturais, José Guilherme Merquior ratifica a inserção cultural do Brasil no Ocidente, em meio à Europa, aos Estados Unidos e Canadá. Nas suas palavras: “[...] nous [les brésiliens] faisons partie intégrante de l’Occident, mais il y a plusieurs façons d’être occidental!” (p.208) [Tradução: “[...] nós [brasileiros] fazemos parte integrante do Ocidente, mas há diversas maneiras de ser ocidental!”]

2)                 Mímese figura como um dos conceitos mais importantes da crítica-estética merquioriana, e Benedito Nunes chegou por isso a distinguir o autor de A astúcia da mímese (1972) ao lado de Luiz Costa Lima. Na comunicação de Cerisy, Merquior recorre à antiquíssima noção, esclarecendo: “Le concept aristotélicien de mimésis est encore vivant, heureusement, mais il n’est plus incontesté et certains le rejettent.” [Trad: “O conceito aristotélico goza ainda de vitalidade, felizmente, mas não é mais incontestado e alguns o rejeitam.”] // No entanto, acreditava o ensaísta brasileiro que “tout art implique, d’une manière ou d’une autre, une mimésis, même si ce n’est pas une représentation « naturaliste ».” [trad: “toda arte implica, de uma maneira ou de outra, uma mímése, mesmo se não se trata de uma representação ‘naturalista’.”]

3)                 Merquior não dedicou muitas linhas às obras de Guimarães Rosa, de Clarice Lispector. Nessa comunicação, há passagens preciosas que registram a compreensão merquioriana sobre o romancista mineiro, como a seguinte: Guimarães Rosa: “[...] avec Guimarães Rosa le régionalisme a fini son cycle dans la littérature brésilienne. Rosa a universalisé le régionalisme en lui prêtant une dimension orphique et gnostique, il a tenté et réussi une fusion superbe des techniques et de la sophistication du roman psychologique avec la tradition thématique régionale. Pour moi, son oeuvre referme le cycle régionaliste tout en l’universalisant, au lieu de le revitaliser.” (p.209) [Trad. “[...] com Guimarães Rosa o regionalismo pôs fim a seu ciclo na literatura brasileira. Rosa universalizou o regionalismo, conferindo-lhe uma dimensão órfica e gnóstica, ele realizou com maestria uma fusão soberba das técnicas e da sofisticação do romance psicológico com a tradição temática regional. Para mim, sua obra conclui o ciclo regionalista, universalizando-o totalmente, em vez de o revitalizar.”]

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