segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Um poema de Érico Nogueira


Porque o contentamento
não há de ser luxúria ou celibato;
mas antes o momento
do fogo mais sensato
que aclara e decompõe no mesmo ato;

de um fogo que é azul
como é a água além, o ar no céu
e a terra bem ao sul:
que muito bem ardeu
se soube conhecer o que perdeu;

e hoje é como a lua,
não como o sol incômodo e insolente:
e antes insinua
o mundo que é latente
do que disseca o que era ocultamente;

é pensamento e vida
que se fundiram num feliz abraço
e fazem-se guarida:
no frio ela é regaço,
no escuro ele dirige cada passo.

*
*         *

O poema acima, sem título, consta do livro Dois, publicado pela É Realizações em 2010, e trata-se do penúltimo volume de poesias do autor. Érico Nogueira, jovem poeta, nasceu em Bragança Paulista; é formado em Filosofia e doutor em Letras Clássicas; leciona na Universidade Federal de São Paulo.
O tom clássico e a concepção neo-iluminista desses seus versos têm qualquer afinidade com a obra de José Guilherme Merquior, "artista" de "dissecar o que era ocultamente", impelido pelo pensamento que "no escuro dirige cada passo". 

3 comentários:

  1. Amigos: o nome do site não devia ser "Quanto MAIS, Merquior!"

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    1. Tomei sua pergunta como sugestão para esclarecimento do título à direita da tela de abertura. Isso era, realmente, necessário. Agradecemos mais uma vez a visita!

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  2. Em reformulação de postagem inaugural, explicou-se grafia inusitada do título, caro visitante:

    "Quanto mas, Merquior! – esse título talvez mereça uma explicação. Baseia-se, está claro, na expressão “quanto mais, melhor”. Propositalmente, substituí, numa licença poética, “mais” por “mas”, em alusão à reconhecida imagem de polemista do autor, cuja obra se impôs, em nome da própria autonomia e do senso crítico, como uma adversativa a diversas orações alheias, pronunciadas no Brasil e no Ocidente."

    Seja bem-vindo ao blog! e obrigado pelo visita

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