Ontem ocorreu o quinto
encontro do GEM em 2015, para dar prosseguimento à discussão de “Crítica,
razão, lírica”, ensaio contido em Razão
do poema (1965), de José Guilherme Merquior. Nesse texto o autor defende que
o poeta deve escrever com a convicção de que a razão precisa prevalecer e/ou
supervisionar a participação eventual do sentimento, da emoção, da sensação e
da fantasia, no propósito de alcançar a mais alta qualidade literária. Ao
crítico, por sua vez, também cabe o dever de interpretar a obra à luz da razão,
examinando todo o mecanismo semântico por trás da linguagem poética.
No fito de tornar o
mais evidente possível o resultado de uma criação pautada na razão predominante
e de uma criação pautada, sobretudo, no sentimentalismo, que Merquior lamentava
comprometer a tradição lírica brasileira, pelo menos, até o modernismo, o grupo
analisou comparativamente quatro textos de natureza propositalmente bem diversa: duas letras de música ("Escreve aí", cantada por Luan Santana, e "Construção", de Chico Buarque) e dois poemas ("Amor e medo", de Casimiro de Abreu, e "Tecendo a manhã", de João Cabral de Melo Neto).
A análise procurou evidenciar
o fato de que tanto os versos de “Escreve aí”, contemporâneos, quanto os de
“Amor e medo”, românticos, constituem-se de mero senso comum a respeito dos
jogos amorosos, não iluminando nenhum aspecto novo relativo ao tema.
Diferentemente, a passagem de “Construção” e o poema “Tecendo a manhã” despertariam
o leitor para uma realidade de que nem sempre está consciente (o orgulho
principesco de um operário em comer arroz com feijão; a indiferença-irritação perante a morte
alheia) ou para uma realidade insuspeita (em vez de a manhã motivar o canto dos
galos, são os galos que “tecem” a manhã) ou ainda para um significado não óbvio
(a manhã, no sentido de um novo tempo, como resultado de um esforço conjunto). Para Merquior, o autêntico poeta deforma o real, poeticamente, para criticamente melhor compreendê-lo.
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