quarta-feira, 20 de abril de 2016

Duas "Políticas literárias": Carlos Drummond de Andrade e Cacaso


“Política Literária” (Carlos Drummond de Andrade)

O poeta municipal
Discute com o poeta estadual
Qual deles é capaz de bater o poeta federal.

Enquanto isso o poeta federal
Tira ouro do nariz.

“Política Literária” (Cacaso)

O poeta concreto
discute com o poeta processo
Qual deles é capaz de bater o poeta abstrato.

Enquanto isso o poeta abstrato
tira meleca do nariz.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

O liberalismo de Fidelino de Figueiredo e o de José Guilherme Merquior

Apesar de já ter transcorrido um mês, ainda deve valer noticiar que, nos dias 14 e 15 de março, no auditório do CEDEM (São Paulo-SP), realizou-se o Congresso Internacional Fidelino de Figueiredo: filosofia e literatura (“Um homem na sua humanidade”). O evento, que integrou parte de uma homenagem maior, envolvendo outras datas e outras localidades no Brasil e em Portugal, contou com a organização dos professores Paulo Motta Oliveira (USP) e Luciene Marie Pavanelo (UNESP).

Fidelino de Figueiredo (1888-1967), pensador e crítico literário português, contribuiu enormemente para a história da cultura acadêmica brasileira, especialmente entre 1938 e 1951, quando exerceu o cargo de professor na então recém-fundada Universidade de São Paulo e na então chamada Universidade do Brasil (hoje UFRJ). O autor de obra volumosa foi professor e grande responsável pelo início da ilustre carreira acadêmica de Cleonice Berardinelli, maior estudiosa brasileira da literatura portuguesa (quem, aliás, por sua vez, lecionou para o nosso José Guilherme Merquior). Dizer que Fidelino exerceu o papel de mentor intelectual e estimulador profissional de Dona Cleo é já por si só dimensionar a importância da contribuição por parte do autor de Um colecionador de angústias para os estudos de literatura portuguesa no Brasil. 
No segundo dia do congresso, pronunciei a comunicação “Dois liberalismos? – razão e modernidade em Fidelino de Figueiredo e José Guilherme Merquior”. De fato, ambos os autores inseriram-se na longeva tradição liberal, e ilustram como o liberalismo assumiu diversificadas facetas ao longo de sua existência, que remonta ao início da história moderna. Pertencentes a gerações distintas, tendo Fidelino de Figueiredo produzido a maior parte de sua obra na primeira metade do século XX, e Merquior na segunda metade do mesmo século, observam-se também diferenças contundentes no liberalismo de cada um.

Em termos esquemáticos, impostos pelos limites de tempo do evento, situei o pensamento liberal de Fidelino numa linhagem marcada pelo que identifiquei como pessimismo conservador, e o de Merquior numa outra linhagem, marcada pelo otimismo pessimista. Tal caracterização, diga-se de passagem, teve toda a cautela em evitar sugestionar qualquer juízo de valor. Acresceu-se que o liberalismo fideliniano impôs-se, acima de tudo, como visão de mundo direcionada por uma ótica predominantemente ética. Desse modo, em pleno contexto da Guerra Fria, o escritor português criticou tanto o autoritarismo de origem marxista quanto o desdobramento econômico do liberalismo, isto é, o capitalismo. Por outro lado, José Guilherme Merquior abraçou o ideário liberal, especialmente durante a década de 80, numa perspectiva ampla (cultural, social, política, ética), na qual se incluía, sem temor, o aspecto econômico. Para o autor brasileiro, o capitalismo era sim superior, em seus resultados históricos, à alternativa socialista/comunista, conquanto fosse vantajoso senão impositivo, a depender das circunstâncias nacionais, implementar-se uma espécie de conjugação dialética entre as duas soluções, encerrada nos termos do social-liberalismo. Com essa plataforma Merquior, na companhia de outros autores, procurava fazer equilibrar a ênfase na liberdade (do cidadão e do mercado), preconizada pelo capitalismo liberal, e a ênfase na igualdade social, almejada pela utopia marxista, na tentativa de não permitir que a política nacional recaísse no libertício das ditaduras comunistas (URSS, Cuba, Coreia do Norte, China), mas tampouco no darwinismo social de um Estado de intervenção mínima.
Importar informar que me baseei, de Fidelino de Figueiredo, especificamente em quatro títulos: O dever dos intelectuais (1935), Um colecionador de angústias (1951), O medo da história (1956) e Diálogo ao espelho (1957); de José Guilherme Merquior, especialmente os títulos O argumento liberal (1983) e O liberalismo: antigo e moderno (1991).     

terça-feira, 12 de abril de 2016

Lançamento de livro: O mundo sitiado: a poesia brasileira e a Segunda Guerra Mundial (Murilo Marcondes de Moura)

Neste sábado (dia 16), Murilo Marcondes de Moura lançará, em Belo Horizonte-MG, o livro O mundo sitiado: a poesia brasileira e a Segunda Guerra Mundial, pela Livraria Scriptum. O professor de literatura brasileira da USP, autoridade nacional em matéria de poesia modernista, focaliza no estudo a produtiva e angustiada reação de poetas do Brasil a um dos episódios mais sanguinários e catastróficos da história humana, sucedido entre 1939 e 1945, que envolveu todos os continentes do Planeta. Para se dimensionar a relevância do tema, podemos citar versos de ninguém menos que Vinicius de Moraes (“A rosa de Hiroshima”), de Murilo Mendes (cuja obra é um dos maiores interesses do xará Marcondes de Moura) e de Carlos Drummond de Andrade (A rosa do povo).