segunda-feira, 22 de abril de 2019

“Merquior educador”: um novo busto para o MEC


Na edição de 6 de fevereiro deste ano (já faz um tempinho isso...), as Páginas Amarelas de Veja entrevistaram o agora ex-Ministro da Educação do Governo Bolsonaro. À pergunta “Se o senhor fosse trocar o busto de Paulo Freire no MEC, quem colocaria no lugar?”, Ricardo Vélez Rodríguez respondeu:

“Do século XIX, Tobias Barreto. Do século XX, Antonio Paim. Do século XXI, Olavo de Carvalho. [...]”

Frente a tais opções, creio ser preferível, além de pertinente, um busto de José Guilherme Merquior. Em reconhecimento a um dos maiores intelectuais da América Latina de todos os tempos, autor cuja obra revela ostensiva, permanente preocupação com a educação brasileira.
O Ministro, quem ratificou na entrevista uma declaração sua anterior, de que a universidade “representa [no sentido de "deveria representar"] uma elite intelectual”, não sendo um lugar para todos, praticamente repete Merquior, que criticava, já nos anos 70, o “imperativo da democratização do ensino, [que] vem destruindo [...] o [...] elitismo da universidade tradicional – o seu legítimo aristocracismo intelectual”.
Nestes tempos de incompreensão de muitas palavras ditas e ouvidas, escritas e lidas, convém frisar: “elitismo” e “aristocracismo” não se referem, nesse contexto, a qualquer elitismo econômico, nem a qualquer aristocracismo social, mas, sim, - exclusivamente - intelectual. Acresce que este texto não se propõe a desqualificar o legado pedagógico de Paulo Freire, reconhecido em diversos meios acadêmicos europeus e americanos.
Para os que, ainda assim, torcem, retorcem e contorcem o nariz para a defesa de um elitismo (ou aristocracismo) intelectual como parâmetro universitário, nós – professores e alunos brasileiros do ensino superior – podemos dizer muitas verdades... Apenas uma delas: não há certa sensação em nosso meio de normalidade a respeito de grande parte dos trabalhos acadêmicos discentes não passarem de plágios mal disfarçados?