segunda-feira, 12 de maio de 2014

De Anchieta a Euclides: crítica literária e história da literatura

Bem-vindo seja, para muito em breve, o quarto volume da Biblioteca José Guilherme Merquior da editora É Realizações, com organização do prof. João Cezar de Castro Rocha. O título: De Anchieta a Euclides, cuja primeira edição data de 1977 (pela editora José Olympio), havendo ainda outras duas, a de 79 (também pela José Olympio) e a de 96 (pela Topbooks). Tivemos a grata honra de contribuir com um texto nessa edição, intitulado “Merquior ou a rebeldia com razão”,[i] e aqui gostaríamos de acrescentar comentários em torno desse mesmo livro, objetivando situá-lo no contexto da crítica literária e do pensamento do próprio Merquior, de modo bastante sintético.


A história das literaturas nacionais consagrou-se como gênero de destaque na crítica literária do século XIX, espécie de correspondente da epopeia para a poética clássica, credencial de maior respeitabilidade que poderia laurear seu autor. Assim como Francesco Petrarca e Cláudio Manoel da Costa ambicionaram ser reconhecidos, sobretudo, por respectivamente África e Vila Rica, dois poemas épicos frustrados e sobrepujados pelo estro lírico dos poetas itálico e mineiro, com mais felicidade Teófilo Braga em Portugal, Sílvio Romero e José Veríssimo no Brasil realizaram-se como críticos literários, sobretudo, porque legaram suas monumentais histórias da literatura portuguesa o primeiro e da literatura brasileira os dois últimos.

Dois eventos básicos e ideologicamente irmanados estabeleceram as diretrizes conceituais e o prestígio desse gênero crítico ao longo do oitocentos. Um foi a consolidação da própria história como disciplina de estatuto protocientífico, sob estímulo do racionalismo iluminista da segunda metade do século anterior, o XVIII. Desde essa mesma época, vinha se constituindo fenômeno político-cultural tipicamente moderno, a nação, cujo destino e influência se podem medir por episódios como a Revolução Francesa (1789) e as guerras de independência das colônias europeias nas Américas. Ambos os eventos mencionados no início deste parágrafo atestavam o decisivo abalo da concepção clássica de universalidade, no âmbito tanto geográfico quanto cronológico. Era um contexto que incentivava pensar o transcurso do tempo e das ações do homem através da ótica relativista, privilegiando as particularidades identitárias que cada pátria procurava, a partir de uma esfera discursiva, sem dúvida, restrita a uma elite, encarnar. De qualquer forma, se, no Ancien Régime, aristocratas de diferentes reinos sentiam-se mais próximos, em termos de identificação, uns com os outros do que com o extrato popular de seus respectivos reinos, a modernidade político-cultural delineada pela ideia de nação – muito bem resumida no lema revolucionário da liberté, égalité et fraternité – disseminava o sentimento superior de nacionalidade.

O despertar das consciências nacionais no Ocidente do século XIX se serviu largamente da literatura, a qual o romantismo libertava dos preceitos retóricos universais do classicismo, passando a direcioná-la conforme projetos de índole patriótica ou nacionalista, a exemplo do que se passou no Brasil, com a obra de Gonçalves Magalhães, Gonçalves Dias e José de Alencar, e em Portugal com a de Almeida Garrett e Alexandre Herculano. O grande artista clássico se tinha manifestado pela obediência aos modelos, na manipulação engenhosa da imitatio e da aemulatio. Já o grande artista romântico, compreendido como gênio, era a expressão do Volksgeist (o espírito do povo).

No decorrer do século XIX, crítica literária e história da literatura – esta, aqui, não somente na acepção de gênero textual – confundiram-se. Madame de Staël, cuja obra se impôs como uma das mais influentes na primeira metade da centúria, compreendia a literatura em relação às civilizações, chegando a propor mapeamento em que o sul europeu, ensolarado (condição de estímulo a uma visão racional) se caracterizava pela propensão ao clássico, ao passo que o norte do continente, brumoso (condição de estímulo a uma visão onírica) se caracterizava pela propensão ao romântico. Álvares de Azevedo, em Literatura e civilização em Portugal, seguindo a lição de Staël, afirmará que “Mudai as relações do país e a literatura muda”. Conquanto o poeta da Lira dos vinte anos tenha destoado no tocante à afirmação nacionalista romântica da literatura brasileira, sua perspectiva e seus pressupostos não se distinguem muito dos que, como Joaquim Norberto, que planejou escrever nossa primeira História da literatura brasileira, e Nunes Ribeiro, argumentavam em favor da nacionalidade autônoma, em relação a Portugal, da produção literária do País então recém-independente.
O recorrente respaldo biográfico, à maneira de Brunetière, que apontava na intenção autoral o significado a ser desvendado na obra, era outro elemento do primado histórico da crítica da época, sem ainda, geralmente, perder-se de vista o teor patriótico ou nacionalista ou, pelo menos, da nacionalidade em questão. A segunda metade do século, menos metafísica e mais positivista, que abraçou a perspectiva de Hypolite Taine, não foi menos apegada à história (agora aliada da geografia e da biologia), ao apontar no meio, na raça e no tempo as condicionantes da constituição literária, cada uma delas, adotadas com maior acento, respectivamente, em terras tupiniquins, por Araripe Júnior, Sílvio Romero e José Veríssimo.

Logo nas primeiras décadas do novecentos, novas correntes dos estudos literários golpearam a credibilidade da história como perspectiva central de análise. O formalismo na Rússia, o New Criticism nos Estados Unidos e a estilística na Europa questionaram a tradição crítica do século anterior, acusada de concentrar-se em aspectos extratextuais, como a vida do autor (biografia e contexto histórico), para explicar o objeto literário. Empolgava os formalistas o objetivo morfológico-descritivo de reconhecer o que constituiria a literariedade, isto é, o que diferenciava o texto literário do não literário, assim como estabelecer fronteiras formais entre conto, novela e romance, por exemplo. O New Criticism norte-americano igualmente se aventurou em busca de compreensão imanentista da literatura. Denominaram de “falácia da intenção” a autoria concebida como chave interpretativa do texto, e postularam o close-reading, a leitura cerrada, desatenta a tudo que não fosse o próprio texto, como orientação metodológica de análise. Interessada acima de tudo na dimensão fonética, lexical, sintática e tópica do objeto literário, a estilística, se não eliminou de todo a perspectiva histórica, pelo menos procurou fugir ao problemático propósito totalizador das tradicionais histórias da literatura, preferindo eleger aspectos específicos a serem rastreados em determinado período, via de regra, em âmbito antes cosmopolita que nacional, como é o caso de Mímese (1946), de Erich Auerbach, e Estrutura da lírica moderna (1956), de Hugo Friedrich. Cumpre, todavia, observar que os formalistas russos também, em estágio posterior de suas reflexões, concluíram que a exclusividade da perspectiva imanente não bastava para a compreensão satisfatória da literatura, uma vez que o conceito de estranhamento ou de desautomatização perceptiva apenas se poderia dar dentro de uma série literária, ou seja, o significado de uma obra pressupunha obras anteriores e contemporâneas.

Quanto à segunda metade do século XX, principalmente no tocante às décadas de 60 e 70, a crítica literária do estruturalismo descartou mais ostensivamente a dimensão histórica, incentivada pelo suposto primado da sincronia saussuriana. Em compensação, em conferência pronunciada em 1967, na Universidade de Constança, Alemanha, Hans Robert Jauss dava à luz nova corrente da crítica conhecida como estética da recepção, que restaurava – embora sem a mesma repercussão avassaladora do estruturalismo – o lugar da história nos estudos literários. A teoria que Jauss anunciou centralizava o papel do leitor ou, mais especificamente, do público-leitor na constituição histórica do significado do texto, conjugando o corte sincrônico, para apreender-se o impacto da obra no contexto de publicação, com o corte diacrônico, para avaliar-se como a obra vai sendo lida de uma época para outra.

Essa falta de lugar ou essa reacomodação da história dentro da crítica literária era consequência de uma problematização maior, que reavaliava a história mesma como disciplina legada ao novo século pela filosofia metafísica e pelo positivismo, perpassada pelos discursos teleológicos e nacionalistas. De fato, o pensamento pós-moderno (sendo Lyotard uma dessas vozes) viria a decretar a falência das grandes narrativas, fazendo a historiografia mergulhar mais fundo no relativismo dos vencidos e das minorias que até então não puderam ter voz nos registros oficiais. Nos embalos dos Cultural Studies, abalava-se, assim, a própria ideia de cânone, um dos fundamentos que a perspectiva das histórias literárias, cumpre dizê-lo, já começara no século XIX a comprometer, ao focalizar preferencialmente os autores nacionais aos autores considerados universais, na contracorrente da prerrogativa da episteme clássica.

Ao lado do Formalismo Russo, da Estilística, da Estética da Recepção, correntes nas quais a dimensão histórica ainda encontrava lugar, deve-se mencionar as propostas da literatura comparada, os próprios Estudos Culturais em ascensão, e, de maior duração e penetração nos três quartéis iniciais do século XX, a crítica de instrução marxista e sociológica, a de George Lukács, a de Walter Benjamin, a de Theodor Adorno, mais sofisticadas e inovadoras em relação à reflexologia que acabava por incorrer em mais proximidade do que distanciamento da tradição crítica oitocentista, praticada especialmente atrás da Cortina de Ferro.

De Anchieta a Euclides, publicado em 1977, enfrentou a complexidade desse contexto que acima pretendemos ter esboçado. Talvez o fato de não ter se desviado propriamente das linhas tradicionais das histórias da literatura explique a fria recepção que o livro de José Guilherme Merquior encontrou na época. Algo lamentado, no calor ou na gelidez do momento, por Carlos Felipe Moisés, para quem “o livro em pauta constitui um dos mais importantes acontecimentos literários e culturais dos últimos anos”. (1979, p.8) Porém, cabe a pergunta: o que o volume – uma “breve história da literatura brasileira” – efetivamente trazia de contribuição aos estudos literários nacionais?

Uma coisa é certa: o gênero “história da literatura”, no Brasil daquele período (meados da década de 1970), parecia mesmo manifestar sinais de redução de prestígio. Consideremos o arco de 1967 a 1978, ou seja, os nove anos antes e o ano depois da publicação de De Anchieta a Euclides. À guisa de amostragem, podemos citar o aparecimento massivo de reedições: de A literatura no Brasil, organizada por Afrânio Coutinho, de Formação da literatura brasileira de Antonio Candido, da História da literatura brasileira de Antônio Soares Amora, da Pequena história da literatura brasileira de Ronald de Carvalho, da História da literatura luso-brasileira de Francisco da Silveira Bueno, da História da literatura brasileira de Nelson Werneck Sodré, da Presença da literatura brasileira de José Aderaldo Castello e Antonio Candido, da História da literatura brasileira de Lucia Miguel-Pereira, da coletânea da Cultrix, composta pelos volumes Manifestações literárias do período colonial, de José Aderaldo Castello; O romantismo, de Antônio Soares Amora; O realismo, de João Pacheco; O simbolismo, de Massaud Moisés; O pré-modernismo, de Alfredo Bosi; e O modernismo, de Wilson Martins, da História da literatura brasileira de Artur Mota, além da mais antigas História da literatura brasileira de Sílvio Romero e a de José Veríssimo; e da 1ª à 6ª edições da História concisa da literatura brasileira de Alfredo Bosi. Fiquemos por aqui. Dessa lista, que pretendemos seja significativa, parece-nos correto concluir, por um lado, que a demanda editorial por livros desse gênero, marcadamente didático, justificava a publicação de um título como o de José Guilherme Merquior. Por outro lado, que a maior parte dos que acima elencamos tinha vindo a público na década de 1960 ou mesmo antes. Desse modo, De Anchieta a Euclides poderia se propor, de início, como contribuição à atualização da nossa historiografia literária, ou, nas palavras que intitulam outra resenha (de Márcio Almeida) sobre o livro, um “re-conhecimento da literatura brasileira” (1978, p.10)

Conquanto nele se tenha apontado equívocos de informação,[ii] De Anchieta a Euclides cumpria papel, menos textual do que contextual, de um manifesto antiformalista, de modo que se tratava de trabalho em plena sintonia com a campanha de seu autor, incomodado com a sedução do estruturalismo na crítica literária da década de 70, especialmente no Brasil. A data do prefácio do livro, 1974, é, aliás, significativa: nesse mesmo ano, José Guilherme Merquior publica Formalismo e tradição moderna e o artigo “O estruturalismo dos pobres” no Jornal do Brasil. No ano seguinte, redigiria “Os estilos históricos na literatura ocidental”, contribuição para o volume Teoria literária, organizado pelo amigo Eduardo Portella, e publicaria traduzida A estética de Lévi-Strauss. Essas quatro intervenções se voltavam para um mesmo propósito: a defesa de abordagem crítica na qual a história sociocultural fosse captada na forma do objeto literário, a exemplo do que teria realizado, sob aplauso de Merquior, expresso em nota à segunda edição do prefácio a De Anchieta a Euclides, Roberto Schwarz, em Ao vencedor as batatas, livro publicado naquele mesmo ano de 1977.

A meta do crítico, na visão de Merquior, era “saber ler a história no texto, em vez de dissolver o texto na História”, conforme advertia no volume, citando Ezio Raimondi e esclarecendo que tanto o sociologismo herdado do século XIX, que dissolvia ainda no XX as obras literárias na condição de mero reflexo da ambiência histórica (como o vinham fazendo muitos marxistas), quanto considerar o texto não em sua autonomia, mas sim numa espécie de autarquia (como o vinham fazendo os estruturalistas) eram soluções incapazes de compreender adequadamente o fenômeno literário.

Em ensaio de homenagem a Antonio Candido, coligido em Esboço de figura, organizado por Celso Lafer, por ocasião da aposentadoria do grande professor da USP, em fins da década de 70, José Guilherme Merquior informará com orgulho sobre Formação da literatura brasileira:

Símbolo fecundo como poucos, e a justo título inspirador de toda uma inteligência de nosso passado literário. Pessoalmente, foi nele (para não falar de várias outras sugestões de Mestre Candido) que me inspirei (em De Anchieta a Euclides) ao tentar divisar a função latente do momento seguinte na história de nossas letras: o pós-romântico visto como fase de sofisticação técnico-intelectual do nosso sistema literário; como nele tornaria a me inspirar, ao debuxar o perfil da função do modernismo como aprofundamento do potencial de autognose da cultura brasileira. (p.124)

Para Merquior, o livro de 1959 de Candido, ademais, realizava modelarmente a postura crítica frente à literatura, consoante a concepção de que o texto é resultado, isto é, a obra dialoga necessariamente com a sociedade onde é produzida, porém o social converte-se em forma na criação literária. Citemos ainda o ensaísta carioca: “No fundo, Antonio Candido subscreveria sem hesitar o lema do jovem Lukács [...]: o social, na obra de arte, é antes de tudo a forma.” (p.123)

Já mais ao fim do ensaio, intitulado “O texto como resultado”, José Guilherme Merquior cobrava um avanço em relação ao legado do professor da USP, no sentido de “sublinhar mais e melhor as variáveis externas codeterminantes da obra de arte literária”, “usando[-se] com maior empenho os recursos das ciências sociais”. (p.128) Essa cobrança parece-nos satisfeita pelo próprio autor em De Anchieta a Euclides, na medida em que o volume se aparelha de consistentes conhecimentos sociológicos, com base nos quais se reflete a respeito da literatura como manifestação, antes de tudo, sócio-cultural. Exemplo disso é a explicação merquioriana para o artesanato virtuosístico da linguagem pós-romântica (o parnasianismo de Bilac, mas também de Cruz e Sousa), motivado pela tentativa de afirmação aristocratizante de autores pertencentes, no mais das vezes, à pequena burguesia.

De Anchieta a Euclides também ratificava a validade dos estilos de época, tão atacados ainda hoje, mas, no fim das contas, sempre acatados como abordagem contextualizadora de abrangência. Acerca da questão, ensinava Mestre Merquior, em texto contido em Teoria literária, organizado por E. Portella:

Tanto quanto os estilos de autor, os estilos epocais existem – por mais esquivos que sejam ao arsenal classificatório da história da literatura. Podemos aprimorar os instrumentos lógicos utilizados para compreendê-los, porém não temos o direito de fingir que se trata de puras fantasias arbitrárias, imotivadas pela realidade da literatura.
Se os conceitos periodológicos parecem com tal frequência meros flatus vocis, é porque se insiste em atribuir-lhes uma pretensão essencialista, em conferir-lhes um estatuto lógico-epistemológico que na verdade nunca possuíram. (1975, p.40)

Esse reconhecimento dos estilos de época fundamentava-se nas averiguações da relação entre texto e contexto, o primeiro compreendido como resultado do segundo, consoante a fórmula de Antonio Candido. Trata-se de perspectiva, com efeito, não enrijecida, mas elástica, conforme José Guilherme Merquior observa na citação acima. Tanto assim é, que ele, em reflexões reunidas no volume O fantasma romântico e outros ensaios, por um lado, corrobora a existência do modernismo brasileiro, não obstante a pluralidade estilística do suposto movimento, mas por outro lado assinala a coexistência de uma literatura propriamente modernista e de uma literatura moderna, na Europa do século XX inicial.

É, de fato, uma pena não se ter cumprido a promessa do segundo volume daquela “breve história da literatura brasileira”.[iii] Tanto o modernismo ocidental quanto o modernismo brasileiro interessaram e marcaram sempre o pensamento merquioriano.

Ficamos a nos perguntar se hoje seria possível escrever uma história da literatura brasileira, seja nas proporções hercúleas de um Sílvio Romero, seja nas sintéticas do próprio José Guilherme Merquior. Em A literatura no Brasil, Afrânio Coutinho encarava a realidade modesta do crítico novecentista, que dificilmente poderia dominar satisfatoriamente tal número de autores, tal número de obras, tais períodos percorridos pela cultura de todo um país, sobre os quais vinham aparecendo trabalhos mais específicos e mais aprofundados. Saber tudo de tudo não passaria de uma presunção de diletante, aos olhos – nisso especialmente lúcidos – do professor baiano.

A possibilidade e a importância da historiografia literária têm sido confirmadas, em nossos tempos. De início, porque livros como Literatura brasileira hoje (2004), da Publifolha, devem ser avaliados principalmente segundo critérios que levem em conta o leitor alvo. Acreditamos que, no Brasil, país de educação precária e, ainda assim, em declínio no tocante talvez não à quantidade, mas decerto à qualidade, vale muito a lógica das obras literárias adaptadas. É melhor ler Graciliano Ramos adaptado do que não ler Graciliano Ramos nenhum. Pois, quem sabe a adaptação não desperta o interesse para o romancista alagoano puro sangue? O professor, o pesquisador e o crítico que torcem o nariz para as adaptações literárias sofrem de síndrome da torre de marfim; parecem desconhecer – e não desconhecem – o fato desalentador de que lutamos para instruir uma sociedade para a qual a leitura é um sacrifício a ser evitado, a todo custo. Se, diante desse descaso governamental e dessa ignorância social arraigadas, já fica difícil acusar qualquer livro, ou melhor, a leitura de qualquer livro de superficialidade, nocividade ou desserviço intelectual, quanto mais as bem intencionadas histórias da literatura brasileira.

Também se confirmam a possibilidade e a importância das histórias da literatura brasileira no viés da revisão e do questionamento, caso emblemático da trilogia de Flavio R. Kothe, composta de O cânone colonial, O cânone imperial e O cânone republicano. Não concordamos com certos aspectos da perspectiva de Kothe nessa empreitada. Exigir dos sonetos de Camões, um poeta clássico, originalidade é incorrer em anacronismo crasso. Cobrar da “Canção do exílio” de Gonçalves Dias similitude entre expressão poética e veracidade histórico-biográfica é cometer injustiça absurda contra a autonomia artística. Mesmo assim, os livros de Kothe têm o mérito de instigar o debate em torno do cânone literário nacional e dos fundamentos políticos que o instituíram ao longo dos séculos de nossa história. Um ponto ferido pelo tradutor de Walter Benjamin é, especialmente, sério: devemos ler e incentivar a ler, nas escolas, José de Alencar, Casimiro de Abreu, Castro Alves, Lima Barreto, Mário de Andrade somente ou principalmente porque são autores brasileiros? Sim, o nacionalismo subjacente ao discurso da historiografia literária de um país requer o policiamento atualizador de nossa análise. Mas igualmente o requer o estético como valor e critério de seleção ou canonização.

Nas últimas páginas de sua Introdução à historiografia da literatura brasileira, Roberto Acízelo de Souza, docente universitário de reconhecida preocupação com questões didáticas em torno da literatura, enceta uma breve, mas convincente defesa da história literária como etapa inicial de conhecimento (ou re-conhecimento, para retomarmos o termo de Márcio Almeida) da nossa literatura. O professor manifesta plena consciência de que o nacionalismo e a narrativa historiográfica tradicional sofrem, nestes dois séculos mais recentes, de descrédito e desprestígio no meio intelectual. Todavia, nas palavras de Acízelo de Sousa,

[...] salvo demonstração em contrário, não há como construir um entendimento do objeto cultural chamado literatura pelo caminho exclusivo da teoria, sem uma constante remissão à contínua reconfiguração desse objeto segundo decurso do tempo, isto é, conforme o ritmo da história”. (p.151)

Merquior, igualmente preocupado com o presente e o destino de nossos estabelecimentos de ensino superior, com certeza subscreveria as conclusões do professor Acízelo de Souza. De Anchieta a Euclides o atesta.

Referências bibliográficas

Almeida, Márcio. “De Anchieta a Euclides: o re-conhecimento da literatura brasileira” in Suplemento Literário de Minas Gerais. v. 13, n. 601, p. 10, abr. 1978.
MERQUIOR, José Guilherme. “Estilos históricos na literatura ocidental” in PORTELLA, Eduardo et alii. Teoria literária. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1975. pp.40-92.
______. “O texto como resultado (notas sobre a teoria da crítica de Antonio Candido)” in ARINOS, Afonso et alii. Esboço de figura: homenagem a Antonio Candido. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1979. pp.121-131.
SOUSA, Roberto Acízelo de. Introdução à historiografia da literatura brasileira. Rio de Janeiro: Eduerj, 2007.



[i] À altura em que redigimos esse texto, desconhecíamos a resenha de Carlos Felipe Moisés sobre De Anchieta a Euclides, publicada no Suplemento Literário de Minas Gerais de fevereiro de 1978 (vol. 13; no. 644). Aí o resenhista já havia detectado a aplicabilidade do que ensinava Merquior a respeito do estilo e da abordagem críticas de Araripe Júnior sobre o próprio Merquior, citando passagem que nós também citamos antecedida por comentário semelhante. Como compensação pela decepção de termos descoberto que não fomos o primeiro a dizê-lo, tal plágio involuntário nos deixa feliz, por reforçar a validade da observação comum. 
[ii] Infelizmente, não nos recordamos nem do título da resenha, tampouco do autor que assinalava tais problemas no livro de Merquior.
[iii] Inicialmente, o plano, proposto por Adonias Filho, era que Merquior redigisse o primeiro volume dessa história da literatura brasileira, contemplando do período colonial até fins do séculos XIX e princípio do XX, e Eduardo Portella se encarregaria, no segundo volume, do século XX. No entanto, Portella declinou do convite, pois uma “progressiva intolerância [...] foi tomando conta de mim diante dos vícios do historicismo”, conforme relatou, por ocasião da comemoração dos 70 anos de nascimento de Merquior, promovida pela Academia Brasileira de Letras.

sábado, 29 de março de 2014

Um leitor ideal de poesia

São esses os termos com que José Guilherme Merquior se refere, no primeiro ensaio de seu primeiro livro, Razão do poema, a Augusto Meyer, em dedicatória, sinalizando assim o que considerava a abordagem, a metodologia as mais adequadas para o exercício da crítica literária. Além disso, identifica Merquior em nota ao mesmo texto, “Uma canção de Cardozo”: “Augusto Meyer é, como pesquisador e degustador de poesia, a síntese perfeita de informação com sensibilidade, da ‘escavação’ mais segura com a leitura mais sutil, reveladora e penetrante.” (p.28-29)

Não foi sozinho que o autor de O véu e a máscara incensou Meyer. Este, nas palavras algo semelhantes de Antonio Candido, “é e ficará, em nossa história literária, um dos mais altos críticos, um dos espíritos mais penetrantes e fecundos”. Rachel de Queiroz reconhecia, no mesmo diapasão: “Na minha opinião, o mais completo homem de letras do Brasil é Augusto Meyer”.[i] Tendo iniciado suas publicações no gênero ensaístico na década de 1920, e falecido em 1970, os elogios o colocavam em pé de igualdade ou superioridade em relação a contemporâneos da estirpe de um Álvaro Lins (1912-1970), um Alceu Amoroso Lima (1893-1983), um Afrânio Coutinho (1911-2000), um Mário Faustino (1930-1962).

Por uma daquelas coincidências curiosas nas quais o absurdo da vida, às vezes, se deixa cair, o último livro de Meyer, A forma secreta, foi publicado no mesmo ano de Razão do poema (1965). Talvez, frente a tal fato, nos acometesse a tentação da pressa e da simplificação de apontar o pensador carioca como herdeiro do crítico gaúcho. Todavia, conquanto haja efetivamente afinidades em termos de concepção poética entre os dois nomes, cada um deles perseguiu trajetória intelectual bem distinta. Para nos limitarmos ao mais elementar, nem Merquior arriscou a publicação de versos, como o tinha feito Meyer com certo reconhecimento, nem Meyer expandiu, em sua obra, a área de interesse para além da literatura como o faria Merquior com admirável domínio.


Seja como for, o ensaísmo merquioriano, em índole avessa à especialização acadêmica sobre todas as coisas, que começava a direcionar a maneira de se criticar a literatura na época, parece resgatar ou dar continuidade ao que havia de literariamente mais livre na prosa crítica de Augusto Meyer. Esse aspecto, assinalado por quem se ocupou da obra do poeta e crítico gaúcho, foi mais recentemente observado em artigo da revista O eixo e a roda (2010), onde Nelson Ricardo Guedes dos Reis comenta especialmente a respeito de A forma secreta: “Na maioria dos textos que compõem o livro, há uma quase eliminação dos limites institucionalmente instaurados entre literatura e crítica”, textos esses que transitariam, segundo o articulista, entre a “crítica-ensaio” e a “crítica-conto”. (p.141)

Não se verifica tal ruptura de gêneros em Camões o bruxo e outros estudos, volume publicado em 1958, consultado e propagandeado elogiosamente em Razão do poema e Formalismo e tradição moderna. Assumimos não sermos profundo conhecedor da obra crítica do autor gaúcho. É que, com base naquele único livro seu, iremos aqui levantar alguns aspectos que nos parece poderem esclarecer o entusiasmo de Merquior com a metodologia analítica de Meyer. Também não dispomos de tempo suficiente, em meio às tarefas da docência, para sanarmos essa lacuna de nosso repertório. Contudo, acreditamos que os ensaios contidos no pequeno volume podem propiciar, a contento, o alcance do modesto objetivo aqui traçado.
Augusto Meyer integra uma geração de críticos, nascida entre fins do século XIX e princípio do XX, que teve de lidar, por um lado, com os resquícios da crítica da segunda metade do oitocentos, legado de Sílvio Romero e de José Veríssimo, resquícios esses traduzidos na perspectiva biográfico-psicológica e na historiografia literária de base positivista e nacionalista. Por outro lado, com o modernismo que a Semana de 1922 irradiaria, demarcando, no âmbito literário, o efetivo começo do novecentos na literatura brasileira. Nessa geração podemos enquadrar, além do próprio Meyer, Alceu Amoroso Lima, Álvaro Lins, Sérgio Milliet, Tasso da Silveira, Mário de Andrade (não apenas poeta modernista, mas também crítico do modernismo) e outros.

Na condição dupla de Mário de Andrade (assim como Milliet), o Augusto Meyer poeta modernista certamente colaborou para o acolhimento e a compreensão que o Augusto Meyer crítico dispensou ao movimento de renovação das letras nacionais. Entretanto, o crítico operou independentemente do poeta e, mais do que o poeta, contribuiu, ao reforçar o coro dos que procuravam se pautar na objetividade do primado textual. Por aquela altura dos anos 40 e 50, pensava-se em estrutura (antes do estruturalismo, propriamente; sem, portanto, ter o mesmo sentido que virá a ter e se disseminar na década de 1960), a exemplo do livro fundamental de Hugo Friedrich, publicado dois anos antes de Camões o bruxo e outros estudos. Mencionar Friedrich, autor sempre enaltecido por Merquior, vem mesmo a propósito. Pois a estilística germânica, que o autor de A estrutura da lírica moderna, juntamente com Erich Auerbach, Leo Spitzer e Ernst Robert Curtius, entre outros, constituíram, abriu um veio de análise pelo qual Augusto Meyer enveredou para ler a poesia camoniana, atento aos efeitos expressivos da sintaxe, do léxico, do ritmo, da rima, dos topoi quinhentistas, assim como, talvez sua contribuição maior, redirecionar o foco da recepção machadiana brasileira para além ou fora da tradicionalmente alardeada linguagem castiça.

O contexto nacional de publicação de Camões o bruxo e outros estudos está traçado, sumariamente, na passagem abaixo de Wilson Martins, em A crítica literária no Brasil:

Mas, em 1956, a Estilística, sob as formas mais variadas, estava sendo intensamente praticada [...]; lembrem-se, por exemplo, publicados nesse ano, Crítica de estilos, por Aires da Mata Machado Filho; A análise matemática do estilo, [...] por Tulo Hostílio Montenegro; Preto & branco, de Augusto Meyer [etc.]. (p.642)

Fosse como fosse, questões centrais para a estilística – a revalidação do interesse pela mímesis e o reconhecimento da mescla de estilos na condição de marco da modernização literária, como em Auerbach; o enfoque estrutural, como em H. Friedrich[ii] – não ocupam lugar menos importante no pensamento crítico de José Guilherme Merquior. No tocante à mescla estilística, nada menos é do que um aspecto central que o pensador carioca ilumina na poesia do mais famoso itabirano, em Verso universo em Drummond, tese de doutoramento defendida em junho de 1972. Em título de livro também de 72, consagrara a expressão de sabor hegeliano “astúcia da mímese”, com a qual queria destacar a presença da realidade social no texto literário, de forma autônoma em relação à mesma realidade social, bem como, em Formalismo e tradição moderna, de 1974 (livro, aliás, dedicado a Meyer), distinguia: “[...] o objeto da nossa firme condenação não é, de modo nenhum, a análise estrutural, e sim a sua perversão formalista. Conforme assinala Cl. Lévi-Strauss, o iniciador da extensão extralinguística do método estrutural, estruturalismo não é formalismo.” (p.235. grifos do autor)

Consciência correspondente e similar, no seu próprio contexto, apresenta Meyer, nestes termos:

Melhor ainda é a observação de Goethe: “A essência traz consigo a forma e não existe forma sem essência.” Por isso mesmo, parece arbitrária qualquer tentativa de redução da obra poética a uma dessas vertentes e seus declives: ou a pura “mensagem”, o ideário, o tema, as intenções emotivas, a experiência do autor e suas confissões veladas; ou o simples documento literário e análise estilística do mesmo, desligado de suas raízes. (p.42)

Haveria defesa mais merquioriana? A plataforma crítica da análise que se obriga a não desfazer o enlace entre as formas e as essências, ou as ideias, como preferiria dizer o autor de A natureza do processo, está toda naquelas linhas transcritas acima do primeiro ensaio do livro de Meyer, que ainda aí ensina uma das melhores lições de estilística:

[...] a sugestão rítmica depende do significado e não pode ser desvinculada arbitrariamente da sugestão poética, assim como os fonemas em si, aproveitados na teia de assonâncias e aliterações, não possuem nenhuma virtude melódica própria, servindo apenas de reforço à intenção do poeta. (p.17)

Em outras palavras, a faceta formal do poema, no caso especialmente em sua dimensão de significante, não se divorcia da realidade que, poeticamente, se autonomiza na dimensão do significado. Compreende-se melhor, desse modo, porque, no ensaio panfletário “O estruturalismo dos pobres”, publicado no Jornal do Brasil, em 1974, Merquior desqualifica a moda estruturalista nos cursos de Letras do País, insatisfeito sempre com a generalizada “indigência de análises genuinamente imanentes” realizadas pelos universitários, para recobrar, em certo parágrafo, que “‘Tia’ Estilística, essa excelente senhora tão caluniada, era bem mais sensível, bem mais escrupulosa, em face do discurso poético”. (p.9-10)

Falando tanto em ideias quanto em formas, é incrível como a linguagem do crítico gaúcho (num mundo às avessas), por vezes, lembra a linguagem do crítico carioca. Nesta passagem, por exemplo, referente às rimas em “ando” de certa estrofe camoniana, lemos: “Só aos pobres olhos de um Parnasiano pareceriam pobres estas rimas tão simples: elas estão impregnadas de sentido e ressonância emotiva, e da sua pobreza quase nua consegue o Poeta extrair o máximo de intensidade encantatória”. (p.19) Decerto José Guilherme Merquior assinaria, sem pestanejar, essas duas frases, elegantemente construídas com adjetivação, sintaxe e ironia muito suas.

Um dos estudos do livro de Meyer se dedica a um dos topoi analisados por Curtius em Literatura europeia e Idade Média latina, a propósito obra traduzida no Brasil em 1957. Referimo-nos a “o mundo às avessas”, antevisão poética de ocorrências que transtornariam a ordem natural ou comum das coisas. Conforme instrui o próprio pesquisador alemão e repassa Meyer, esse topos, de larga tradição clássica, frequentemente se associava a temas de frustração amorosa ou do que se denomina de florebat olim, isto é, a disposição em enaltecer o passado, em vista dos desconcertos do presente. Assim, poderíamos pensar num eu-lírico que, desgostoso da morte de sua amada ou de sua infidelidade, assevere que, a partir de então, o sol nunca mais vai ressurgir, sempre será inverno, as estrelas cairão dos ceús etc. Augusto Meyer adota a abordagem tópica como chave de leitura de poemas da literatura gaúcha, em Camões o bruxo e outros estudos. José Guilherme Merquior verifica, no ensaio de abertura de Razão poema, aquele mesmo topos no poema de Joaquim Cardozo analisado,  sublinhando em nota que Meyer teria corrigido Curtius, ao enxergar mais insistente plasmação, na tradição literária, do “mundo às avessas” na temática amorosa do que na de florebat olim, o que valeria o comentário do jovem autor: “[...] é uma verdadeira demonstração de força em matéria do que pode produzir a erudição literária no Brasil, no terreno da tópica ou em qualquer outro.” (p.28) Mas também em outro ensaio, de Formalismo e tradição moderna, Merquior tanto instrumentaliza o mesmo topos para interpretar um soneto de Camões quanto insinua, mais uma vez em nota, que “a agudeza pioneira de Camões o bruxo [e outros estudos] no terreno da estilística do estrato fônico em Camões” (p.106) o estimulara na interpretação que ali desenvolvia.

Cumpre assinalar igualmente a universalidade que norteou a estilística germânica, orientação manifesta, sobretudo, na atração pela literatura românica. Os alemães Wilhelm Storck e Carolina Michäelis, os maiores estudiosos no século XIX da poesia camoniana e quinhentista portuguesa, certamente são os antepassados intelectuais de Erich Auerbach, especialista em Dante Alighieri e Charles Baudelaire; de Hugo Friedrich, leitor perspicaz de versos franceses e espanhóis; de Leo Spitzer, autor de análise exemplar de um poema de São João da Cruz; de Ernst Curtius, erudito de toda uma literatura europeia. Augusto Meyer não se difere, embora inverta os papéis. Falante do alemão, pôde ler esses críticos no original, sentindo-se à vontade para interpretar poemas escritos nesse idioma, em francês, com a mesma desenvoltura e minúcia que tratava de textos da literatura gaúcha. Prescinde repetir menção ao empenho de José Guilherme Merquior nesse mesmo sentido. Seu livro de estreia basta para atestá-lo (Bocage, Daniel Arnaut, E.T.A. Hoffmann, Petrarca...). Todavia, acrescentemos a comparação que, em De Praga a Paris (1986), realiza entre Roland Barthes e Walter Benjamim, no propósito de salientar a superioridade deste sobre aquele:

Em primeiro lugar, apenas Benjamin foi um legítimo crítico ocidental, quero dizer, uma mente capaz de lidar com a literatura moderna de um ponto de vista cosmopolita. Enquanto a esfera de ação de Benjamin incluía ampla gama de autores franceses e russos, além da, é claro, literatura alemã, a de Barthes era claramente menos abrangente. Seu corpus crítico – Racine, Voltaire e Sade; Chateaubriand, Balzac, Stendhal, Michelet; Baudelaire e Flaubert; Proust e Gide; Sartre e Camus; Robbe-Grillet e Sollers – revela dois hiatos fundamentais. Um, a poesia (escreveu sobre Baudelaire, mas não sobre seus poemas; sobre Racine, mas não sobre seus versos). [...] O outro hiato é a literatura estrangeira, com a exceção única de Brecht. [...] Barthes era profundamente provinciano no que diz respeito ao seu alcance intelectual. (p.214)

Augusto Meyer, apenas em seu livro publicado três anos após sua análise Le bateau ivre: análise e interpretação, contempla a poesia italiana, espanhola, francesa, alemã, na autoridade de quem domina, com erudição de filólogo, tais idiomas. Como crítico, Meyer participava, mais à frente, do que ele mesmo, em seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, pronunciado 19 de abril de 1961, constatava:

Começou a afirmar-se aos poucos o verdadeiro espírito universalista, que é a essência do humanismo. Por enquanto, parece manifestar-se apenas com a ingenuidade das contradições, como proliferação de nacionalismos destemperados. Não importa; é a conquista para melhor.

Esperamos que o exposto acima, não obstante as deficiências evidentes de nosso texto, tenha contribuído no esclarecimento do título que Merquior conferiu a Augusto Meyer, este “leitor ideal de poesia”.


Referências bibliográficas:

FRIEDRICH, Hugo. Die Struktur der modernen Lyrik: von der Mitte des neunzehnten bis zur Mitte des zwanzigsten Jahrhunderts. Hamburg: Rowholt, 2006.

MARTINS, Wilson. Crítica literária no Brasil. 2ª ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1983. vol.II.

MERQUIOR, José Guilherme. De Praga a Paris: o surgimento, a mudança e a dissolução da ideia estruturalista. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.

______. Formalismo e tradição moderna: o problema da arte na crise da cultura. São Paulo: Forense, 1974.

______. “O estruturalismo dos pobres” in: O estruturalismo dos pobres e outros ensaios. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1975. pp.7-14.

______. Razão do poema: ensaios de crítica e de estética. 3ª ed. São Paulo: É Realizações, 2013.
MEYER, Augusto. Camões o Bruxo e outros estudos. Rio de Janeiro, São Jose: 1958.

______. “Discurso de posse na Academia Brasileira de Letras”. Disponível em: <<HTTP://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=12269&sid=175>>

REIS, Nelson Ricardo Guedes dos. “Augusto Meyer: o discurso poético na crítica literária” in: O eixo e a roda. vol.10, no. 19, Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2010. pp.135-152.




[i] Excertos citados da orelha de Camões o bruxo e outros estudos, na edição da Livraria São José (1958).
[ii] Assim define Friedrich define estrutura, para os fins analíticos de seu livro mais conhecido: “[...] die Gesamtgestalt einer Gruppe zahlreicher lyrischer Dichtungen, die einander keineswegs beeinflusst zu haben brauchen und deren einzelne Eigentümlichkeiten dennoch zusammenstimmen und auseinander erklärt werden könnnen, jedenfalls so häufig und in gleicher Lagerung vorkommen, dass sie sich nicht als Zufälle ansehen lassenn.“ (p.12) Em minha tradução meia boca: “A forma global de um conjunto de poemas líricos numerosos que, em caso nenhum, precisam ter influenciado uns aos outros e dos quais determinadas particularidades, todavia, conjugam-se e podem ser esclarecidas separadamente. De todo modo, sucede muito frequentemente e na mesma medida que esses poemas não permitem serem compreendidos como resultados do acaso.” O que revela a atenção de Hugo Friedrich à tensão, tão reclamada por Merquior, no texto poético entre autonomia formal e inserção histórica. 

terça-feira, 11 de março de 2014

O discurso de posse na ABL


Há exatos 32 anos, elegia-se José Guilherme Merquior para ocupar a cadeira 36 da prestigiada Academia Brasileira de Letras. A averiguação pelo candidato das possibilidades para ingresso na casa que Machado de Assis, Joaquim Nabuco e outros nomes ilustres da cultura do Brasil fundaram em 1897, está noticiada em “O fenômeno Merquior”, às páginas 485 e 486. Segundo José Mario Pereira, o autor de A astúcia da mímese concorreu com Arnaldo Niskier e Geir Campos, tendo recebido 22 votos, o segundo 15 e o terceiro apenas um.

O discurso de posse, pronunciado um ano após a eleição (11 de março de 1983), dos mais belos que se ouviram nas dependências da ABL e, indubitavelmente, digno de constar em qualquer antologia merquioriana, será vítima aqui de alguns comentários nossos. Antes de tudo, cumpre observar a índole desse gênero textual, marcadamente laudatório. Sabe-se que o protocolo recomenda ao acadêmico empossar, proferindo palavras em louvor ao patrono e aos antecessores da cadeira na qual passará a se sentar, sendo ainda de bom deter-se no último ocupante. O discurso de Merquior, portanto, precisou considerar a trajetória biográfico-intelectual de Teófilo Dias (o patrono), Afonso Celso, Clementino Fraga e, mais longamente, a de Paulo Carneiro, diplomata a quem o novo imortal da ABL chegou a conhecer com grande proximidade e vinha a suceder na instituição. Cumprindo a risca o ritual, José Guilherme Merquior discorre sobre as contribuições dessas personalidades das letras e das ciências nacionais, mas sem cometer traição, em qualquer nível, referentemente às próprias convicções e concepções. Esse fato, que faz jus à postura de polemista do orador, advém da intransigência da sinceridade a suplantar o cariz, a princípio, forçosamente enaltecedor da ocasião. Em suma, estamos lendo, no discurso em questão, as ideias autênticas de um autor não constrangido, que se sente à vontade para tratar de assuntos centrais de seu pensamento crítico, como a dialética entre nacionalismo e universalismo (ou brasilidade e humanidade); a defesa do comprometimento com a busca do conhecimento objetivo, porém com a precaução de evitar converter a ciência em reduto de dogmas; e a restauração, de sabor neo-iluminista, do sentido de humanismo, indevidamente apropriado pelo que acusava de “delírio irracionalista” (o pós-estruturalismo et caterva).

É interessante sublinhar como as circunstâncias do local parecem ter estimulado a faceta mais poética, mais lírica da linguagem merquioriana nesse discurso, o que justificaria a constatação inicial e final de uma “secreta e harmônica magia” a entrelaçar a vida e a obra dos ocupantes da cadeira 36, sob o signo da brasilidade. Esse termo, a propósito, (destaca Merquior) tinha sido cunhado por Afonso Celso, célebre autor de Por que me ufano de meu país (o título, aliás, consagraria outro termo, ufanismo). Para o grande crítico literário, sempre disposto a encarnar opiniões controversas, o “breviário patriótico” do fundador da sua cadeira, objeto da ridicularização de muitos, fazia-se “empenho de valorização do nosso passado e da nossa raça frente à descrença na viabilidade do Brasil e nas virtualidades de seu povo”, indo mesmo a “aproximar esse ufanismo de 1900 do brasileirismo de 22”. Todavia, o orador tinha o cuidado em frisar que sua compreensão de nacionalismo, e a de Celso, não o confunde com xenofobia, da mesma forma que, pelo lado oposto, o exemplo do diplomata Paulo Carneiro e do poeta Murilo Mendes, ensinava que internacionalismo não deveria ser “um cosmopolitismo oco e vazio”, nem se deveria abraçar uma “internacionalidade sem raízes” – preocupação fundamental de José Guilherme Merquior desde textos do início da década de 60.

O esforço mais curioso no discurso envolve a revisão do positivismo no Brasil, o que é condicionado pelo fato de o imediato antecessor, o acadêmico Paulo Carneiro, ter nutrido estreitas ligações com essa corrente de pensamento tão atacada em sua época e confinada de uns tempos para cá ao nicho do anedotário da história da filosofia. Seja como for, Merquior distingue “Positivismo-clima” de “Positivismo-seita”, esta uma espécie de fundamentalismo, definitivamente prejudicial a todo propósito original de Auguste Comte, filósofo francês animado por um “ethos altruísta e generoso, que unia amor ao saber e amor ao próximo, fundindo assim o melhor do Cristianismo com o melhor da Ilustração”, tendo sido menos o sistema do que a postura positivista “a tentativa mais consistente de alcançar uma síntese entre Iluminismo e Romantismo, razão crítica e sentimento comunitário”. Essa síntese, com efeito, cai como luva na militância merquioriana, cuja plataforma se constituía da crença inabalável na racionalidade neo-iluminista (é recorrente nos depararmos com o nome de Voltaire em sua obra) e da valorização do nacional (em coerência mesmo com sua carreira de diplomata) dentro do circuito vital do sentimento comunitário.

Não vejamos nessa compreensão do positivismo que José Guilherme Merquior incentiva – sem dúvida, ele sabia de seus efeitos polêmicos – como manifestação caricata de um reacionário, que quixotescamente transpõe para a realidade o sonho-loucura da filosofia de Quincas Borba. Não deveríamos antes assumir a superficialidade de nosso entendimento a respeito do positivismo, soterrado por camadas de lugares comuns reproduzidas em aulas de História do antigo segundo grau, do atual ensino médio e inclusive do ensino superior? Não ignoraríamos “a índole antidogmática da ideia comteana de Ciência, com seu acento na relatividade do saber”? A seriedade e a relevância da atitude de Merquior no discurso de posse ecoam Eduardo Lourenço, respeitável filósofo português, que, em “Sebastianismo: imagens e miragens”, texto de outubro do ano anterior, dava um paternalmente rápido puxão de orelhas em “alguns que têm do ‘positivismo’ uma ideia estereotipada”. (p.49)

Decerto menos impactante, porém não menos importante é o resgate do humanismo empreendido por Merquior àquela ocasião. Irritado com o divórcio, na cabeça de muitos pensadores e intelectuais da época, entre o conhecimento de dimensão humana e o de dimensão científica, argumenta:

De Leonardo a Goethe, ele [o Humanismo] foi basicamente “inclusivo”: aberto ao progresso do saber e às revoluções científicas. Isso tanto era certo do Humanismo filosófico da Renascença quanto do Humanismo dos philosophes ao tempo do enciclopedismo, e também, muito significativamente, dos próprios fundadores da Ciência Moderna. Galileu foi um humanista. Só conosco é que se instala no Humanismo estabelecido o rancor contra a Ciência, a denúncia irracional e indiscriminada do progresso, só conosco é que humanistas passaram a repudiar, injustificadamente, a Cultura Moderna.

O autor de O marxismo ocidental identificou-se profundamente com a cadeira 36. Dissemos acima que Merquior, àquele 11 de março de 31 anos atrás, proferiu palavras que ultrapassam o rito textual laudatório, impondo a coincidência entre o que ele mesmo pensava e o que pensavam seus antecessores, principalmente Paulo Carneiro. A passagem transcrita abaixo é perfeitamente aplicável ao próprio orador, que muitos acusaram de se aproveitar do debate de ideias em voga para se celebrizar:

Assim punha ele [Paulo Carneiro] no mais mundano dos gêneros literários – a conferência extracurricular – uma constante substancialidade de pensamento, sem qualquer laivo de oportunismo intelectual e, em particular, sem a mínima veleidade de seguir as modas ideológicas reinantes. Pouco ou nada lhe importavam os decretos da haute couture do espírito, os ucasses dos gurus germanopratinos e, quando se abalava a comentar algum, era única e exclusivamente em função do que houvesse de autenticamente relevante na sua obra, para além de todo modismo. Foi com esse discernimento que se interessou, por exemplo, pela renovação da antropologia devida a meu mestre Lévi-Strauss [...].

Logo nos primeiros parágrafos do discurso, Merquior anunciava sua obediência ao preceito de Pope, segundo o qual não se deveria permitir, no crítico, o desaparecimento do homem. No contexto inicial, o sentido era: não falarei apenas das obras desses críticos (Afonso Celso, Clementino Fraga e Paulo Carneiro), mas também da atuação moral desses homens. Mais adiante, o preceito parece adquirir nova roupagem semântica: o orador não permite desaparecer no crítico que fala de outros autores o próprio crítico, que encontra uma maneira elegante de falar de si mesmo. À citação acima, uma evidente autodefesa, podemos juntar à singela homenagem a Josué Montello, escritor maranhense, que o recebia na Academia Brasileira de Letras. A homenagem se expressou pela declamação de poema de outro maranhense, tio de Teófilo Dias, Gonçalves Dias, por cujos versos, informava Merquior, “iniciei meu convívio com a musa morena – a Poesia do Brasil”. E acrescentava: “Meu pai gostava de recitar ao filho menino os versos de Gonçalves Dias – e ao poeta do I Juca Pirama permaneço obstinadamente fiel, na galeria de minhas máximas admirações.”

Reputamos o último parágrafo desse discurso uma das mais preciosas passagens de José Guilherme Merquior. Nela se exacerba a poeticidade, muito bem disseminada no texto. Nela se dosa, com aguda pertinência, a erudição. Nela se semeia a sabedoria de uma lição cristalizada nos contornos de uma máxima: “[...] o diálogo, mesmo na eventual divergência, é a via régia do conhecer e da paixão que me anima: a paixão de compreender. O prêmio da vida acadêmica não é a discordância sem discórdia?”

Adotando nós mesmos o preceito de Pope, gostaríamos igualmente, nestes comentários, de não permitir que, no crítico das ideias Merquior, não se perca o homem Merquior. No princípio de seu discurso, o autor de A natureza do processo assinala a longevidade dos ocupantes anteriores daquela cadeira – Afonso Celso (1860-1928), Clementino Fraga (1880-1971) e Paulo Carneiro (1901-1982) –, em contraste com a vida curta do Patrono (1854-1889), advertindo, porém, haver “no modelo” daqueles “muito mais a imitar do que a mera longevidade”. Infelizmente, o novo acadêmico, sempre tão ansioso de ser estudante (condição, como muito bem afirma Josué Montello, “de quem não perde a curiosidade pelo saber”) só se esqueceu da lição menos importante... ou antes, acabou imitando nisso a Teófilo Dias.

João de Scantimburgo sucedeu José Guilherme Merquior, ocupando a cadeira na qual, desde o ano passado, se senta Fernando Henrique Cardoso. O primeiro, recebido pelo acadêmico Miguel Reale, grande amigo de Merquior, afirmou sobre este, no discurso de posse pronunciado a 26 de junho de 1992:

Ao lermos e meditarmos as obras de Merquior, impressionados pela riqueza das dissertações, a multiplicidade das questões examinadas, e, portanto, disputadas, como diriam os escolásticos; ao indagarmos sobre o seu fundamento filosófico, convencemo-nos de que estamos diante de uma Suma da Cultura Moderna, em vias de se formar, no melhor estilo de suas congêneres do passado, ainda que pontilhada de finíssima ironia. Se tivesse vivido para completar sua obra, provavelmente nos daria a Suma com as grandezas e misérias da Cultura Moderna, neste século XX que termina em estertores de crise da civilização.

Quanto ao discurso que Fernando Henrique Cardoso proferiu, a 11 de setembro de 2013, com ênfase autobiográfica nas questões políticas brasileiras e mundiais, partidárias ou não, parece-nos acertadamente ensinar:

Puxando a brasa para minha sardinha, ouso dizer que para Merquior o amor às liberdades e o respeito às regras do mercado não inibem (como creem os neoliberais) a ação pública reguladora em busca de maior igualdade. Estava mais próximo da versão contemporânea da social democracia do que do “liberismo”, tão à moda no final dos anos oitenta.

Mas também, para o certo aplauso póstumo de José Guilherme Merquior, o ex-presidente, frente ao imperativo de se referir ao patrono da cadeira, explicita a orientação poética à qual Teófilo Dias procurava obedecer, encerrada na “correspondência exata, a equivalência perfeita, entre a forma e o pensamento”. Palavras, aliás, do próprio poeta maranhense.

Aqui não podemos nos ater àquelas palavras reproduzidas mais acima do excelente e hoje, mais do que nunca, comovente discurso de Josué Montello, incumbido de receber Merquior na ABL. Os pontos atacados por Montello resultam num texto, além de hospitaleiro e informativo, esclarecedor e instigante. Sobretudo no que diz respeito à percepção de que o novo acadêmico se inseria na tradição, que remonta a Sílvio Romero, de críticos com atuação notadamente pedagógica, não apenas no exercício da docência, mas também na atividade ensaística. Esse empenho da obra merquioriana se reforçava, segundo Josué Montello, no “gosto do livro como instrumento de ação pública, porque sois, concomitantemente, um escritor e um político.” Como não poderia deixar de destacar, José Guilherme Merquior é assim caracterizado: “Sois ensaísta, crítico, jornalista, professor, conferencista, mas sois, em essência, um polemista.” Todavia, se, para nós, em comentários dispensados ao livro Razão do poema neste blog, a carreira diplomática e a militância do polemista parecia consistir em contradição espiritual do pensador carioca, Montello enxerga a questão com bem melhores óculos, apontando a afinidade entre ambas:

Bem sabeis que a própria vida diplomática, a despeito de suas cortesias externas, é uma luta vigilante em que o ruído dos entrechoques internacionais se processa o mais das vezes com o tinido dos cristais e dos talheres. A conversa amena, por onde circulam as anedotas, substitui o corpo a corpo e pugilato, assim como a braçada de flores elide a intimidação pelas armas.
Sois diplomata, e dos mais ilustres e experientes, e sois crítico literário e ensaísta político. Poder-se-ia supor que o diplomata neutralizaria o crítico e o ensaísta, mas os três têm igual substância polêmica, cada qual com o seu estilo e o seu modo de ver.

Não escapou ao discurso de quem recebia Merquior a beleza estilística de sua linguagem, beleza que atingia, segundo um comentarista de As ideias e as formas citado por Montello, os limites da poesia.

Por fim, destacamos – pedindo desculpas pela insistência na infeliz precocidade da morte de José Guilherme Merquior – o involuntário sentido metafórico-profético destas palavras de Josué Montello, pronunciadas numa casa assombrada teimosamente pelo tema da idade e da (i)mortalidade: “Relevai-me se vos afirmo que ainda deixais sentir um ar inaugural. Dir-se-ia que andais pela casa dos vinte anos, aguerrido, bem disposto, os cabelos pretos, o jeito afirmativo, o gosto de bem realizar. Correis o risco de que vos tomem por terceiro secretário e já sois ministro, a um passo do fecho de vossa carreira.” Um passo que se alongou por menos de uma década...

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Segue abaixo a lista das demais 39 cadeiras e dos nomes de seus respectivos ocupantes no momento em que José Guilherme Merquior toma posse na Academia Brasileira de Letras:

Cadeira 1: Bernardo Élis;

Cadeira 2: Mário Palmério;

Cadeira 3: Herberto Sales;

Cadeira 4: Vianna Moog;

Cadeira 5: Rachel de Queiroz;

Cadeira 6: Barbosa Lima Sobrinho;

Cadeira 7: vaga no momento, em decorrência do falecimento recente (novembro de 1982) de Dinah Silveira de Queiroz;

Cadeira 8: Austregésilo de Athayde (presidente);

Cadeira 9: Carlos Chagas Filho;

Cadeira 10: Orígenes Lessa;

Cadeira 11: Deolindo Couto;

Cadeira 12: Abgar Renault;

Cadeira 13: Francisco de Assis Barbosa;

Cadeira 14: Miguel Reale;

Cadeira 15: Dom Marcos Barbosa;

Cadeira 16: Pedro Calmon;

Cadeira 17: Antonio Houaiss;

Cadeira 18: Peregrino Júnior;

Cadeira 19: Américo Jacobina Lacombe;

Cadeira 20: Aurélio de Lyra Tavares;

Cadeira 21: Adonias Filho;

Cadeira 22: Luís Viana Filho;

Cadeira 23: Jorge Amado;

Cadeira 24: Cyro dos Anjos;

Cadeira 25: Afonso Arinos de Melo Franco;

Cadeira 26: Mauro Mota;

Cadeira 27: Eduardo Portella;

Cadeira 28: Menotti del Picchia;

Cadeira 29: Josué Montello (acadêmico que recebeu J. G. Merquior);

Cadeira 30: Aurélio Buarque de Holanda;

Cadeira 31: José Candido de Carvalho;

Cadeira 32: Genolino Amado;

Cadeira 33: Afrânio Coutinho;

Cadeira 34: Carlos Castello Branco;

Cadeira 35: José Honório Rodrigues;

Cadeira 37: João Cabral de Melo Neto;

Cadeira 38: José Sarney;

Cadeira 39: Otto Lara Rezende;

Cadeira 40: Alceu Amoros Lima.

Referências bibliográficas

LOURENÇO, Eduardo. “Sebastianismo: imagens e miragens” in: Mitologia da saudade. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. pp.46-53.

PEREIRA, José Mario. “O fenômeno Merquior” in: COSTA E SILVA, Alberto da (org.). O Itamaraty na cultura brasilera. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 2002. pp. 475-506.


Os discursos que consultamos estão disponíveis no site oficial da Academia Brasileira de Letras: