sexta-feira, 6 de novembro de 2015

5º encontro GEM 2015

Ontem ocorreu o quinto encontro do GEM em 2015, para dar prosseguimento à discussão de “Crítica, razão, lírica”, ensaio contido em Razão do poema (1965), de José Guilherme Merquior. Nesse texto o autor defende que o poeta deve escrever com a convicção de que a razão precisa prevalecer e/ou supervisionar a participação eventual do sentimento, da emoção, da sensação e da fantasia, no propósito de alcançar a mais alta qualidade literária. Ao crítico, por sua vez, também cabe o dever de interpretar a obra à luz da razão, examinando todo o mecanismo semântico por trás da linguagem poética.
 
No fito de tornar o mais evidente possível o resultado de uma criação pautada na razão predominante e de uma criação pautada, sobretudo, no sentimentalismo, que Merquior lamentava comprometer a tradição lírica brasileira, pelo menos, até o modernismo, o grupo analisou comparativamente quatro  textos de natureza propositalmente bem diversa: duas letras de música ("Escreve aí", cantada por Luan Santana, e "Construção", de Chico Buarque) e dois poemas ("Amor e medo", de Casimiro de Abreu, e "Tecendo a manhã", de João Cabral de Melo Neto).
 

A análise procurou evidenciar o fato de que tanto os versos de “Escreve aí”, contemporâneos, quanto os de “Amor e medo”, românticos, constituem-se de mero senso comum a respeito dos jogos amorosos, não iluminando nenhum aspecto novo relativo ao tema. Diferentemente, a passagem de “Construção” e o poema “Tecendo a manhã” despertariam o leitor para uma realidade de que nem sempre está consciente (o orgulho principesco de um operário em comer arroz com feijão; a indiferença-irritação perante a morte alheia) ou para uma realidade insuspeita (em vez de a manhã motivar o canto dos galos, são os galos que “tecem” a manhã) ou ainda para um significado não óbvio (a manhã, no sentido de um novo tempo, como resultado de um esforço conjunto). Para Merquior, o autêntico poeta deforma o real, poeticamente, para criticamente melhor compreendê-lo.

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