sexta-feira, 13 de novembro de 2015

6º encontro GEM 2015

O GEM reuniu-se ontem para ainda discutir “Crítica, razão, lírica”, ensaio que integra a segunda parte, dedicada à estética, de Razão do poema (1965). Também se oficializou o ingresso de mais um integrante no grupo, o graduando do curso de Licenciatura Plena em Letras Português da UESPI, campus de Bom Jesus-PI, Lucas Negreiros França.
 
O texto em pauta refere-se às três frentes fundamentais do sistema literário, coincidentes com a hoje clássica definição de Antonio Candido, em Formação da literatura brasileira: 1) autor, 2) obra e 3) público. No tocante ao primeiro elemento, que envolve mais especificamente a criação do texto lírico, o poeta, para o jovem José Guilherme Merquior, precisa estar convicto do papel da razão, que deve coordenar e supervisar a participação da fantasia, das sensações e dos sentimentos. Empreendendo um “ataque contra a abundância e preeminência do elemento sensorial”, (2013, p.191) aspectos estes comprometedores da qualidade da maior parte da tradição poética brasileira, o ensaísta endossa a escrita de “uma poesia do pensamento”, que, de qualquer forma, nem por isso renuncia a uma necessária “vibração emotiva”. (2013, p.190)
 
Quanto ao segundo termo acima discriminado, Merquior ratifica a autonomia da poesia frente à realidade – “é consideração do mundo, mas sem sujeição aos seus dados, sem pura descritividade” –, (2013, p.193) sendo que a lírica se vale de “uma razão que enfrenta o mundo disposta a extrair dele um significado”, instaurando assim uma “pura significação nascente”. (2013, p.193)A observação desse enfrentamento do mundo pela poesia, segundo Merquior, pretende evidenciar a tensão entre arte e sociedade, que talvez possamos explicar, para fins didáticos, da seguinte maneira: o poeta escreve num ato de crítica (não no sentido de rejeição, mas de compreensão avessa a qualquer gesto de passividade e aceitação dogmática) da realidade, para que a obra escrita, conquanto autônoma em relação ao que semanticamente a motivou, estabeleça diálogos com aquela mesma realidade social. Donde o autor ensinar tanto que a)“A poesia discute valores, não já simplesmente os funda; e o lirismo, que era já um tipo especialíssimo de consciência emocional, agora aparece como emoção ante um mundo-problema” (2013, p.196) quanto que b) “Na lírica a subjetividade está essencialmente a serviço do coletivo, a serviço dos homens, pois só assim se pode compreender que seja, como é, atividade constitutiva de sentido.” (2013, p.194) Em outras palavras, às quais gostaríamos de dar maior destaque:

[...] a literatura, mesmo autônoma e específica como atividade, não existe sem realizar-se na direção de uma necessária causa final, e [...] essa finalidade, é a sua grandeza, [...] esta é, sem dúvida possível, “a profundidade e a riqueza das suas relações com a realidade-afetiva”. (2013, p.200)

Finalmente, sobre o terceiro elemento, no ensaio representado pela crítica literária, esta também não está dispensada de munir-se de uma postura por excelência compromissada com a razão, pois “A leitura do poema intelectualizado [...] parece exigir a atenção da inteligência leitora”. (2013, p.193) Como gratamente esclarece Eduardo Portella a respeito do contexto de publicação de Razão do poema, José Guilherme Merquior, com esse livro, manifestava-se contrário à recaída impressionista da crítica no momento (década de 1960), decerto estimulada por soluções literaturizantes como remédio ao secular complexo de inferioridade dos críticos diante da literatura. Nesse ensaio de Razão do poema, Merquior apontava para outro caminho, assim pensando:

À crítica sempre competiu fazer a “política” da literatura nova. Quando falhou nessa missão, foi preciso que os poetas se tornassem críticos: Pound e Eliot; mas essa não é decerto a melhor solução. Crítica e poesia, crítica e literatura, não são, nem nisso, estanques: mas se conservam como funções distintas. (2013, p.201)

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