segunda-feira, 29 de agosto de 2016

100 anos de Cleonice Berardinelli

Ontem (28 de agosto) Cleonice Berardinelli completou 100 anos de vida. Seu aniversário é motivo de comemoração tanto de quem a conhece pessoalmente (familiares, amigos, ex-alunos) quanto de quem aprecia a belíssima literatura portuguesa. Pois trata-se de uma mulher que representou um marco para a história dos estudos de Camões, de Camilo, de Eça, de Fernando Pessoa no Brasil. Sua contribuição e importância nesse âmbito equivalem ao de Afrânio Coutinho para a renovação da crítica literária brasileira no século XX, por ter instruído, formado e orientado, em graduação e pós-graduação, boa parte dos primeiros professores universitários brasileiros de literatura portuguesa. Nisso Berardinelli conduziu adiante o legado de Fidelino de Figueiredo, intelectual português que, como professor da USP, se empenhou admiravelmente para que houvesse, na instituição, condições mínimas necessárias ao desenvolvimento do estudo e da pesquisa em torno do assunto. Fidelino enxergou em Dona Cleo, à época bastante jovem, a docência potencial e a encaminhou num trajeto que a consagraria como uma das mais respeitáveis lusitanistas brasileiras.


Num dos dias do Congresso Internacional Fidelino de Figueiredo: filosofia e literatura ("um homem na sua humanidade"), realizado em 2015 e 2016, uma de suas ex-alunas - a profa. Gilda da Conceição Santos -, em adorável alusão a minha comunicação comparativa sobre o liberalismo de José Guilherme Merquior e o do homenageado, encerrou o evento noticiando a todos os presentes que também o autor de Formalismo e tradição moderna havia sido aluno de Cleonice Berardinelli, elo de uma corrente que o levaria ao escritor português.


O centenário de dona Cleo (informalidade carinhosa, mas respeitosa), uma imensa alegria para muitos brasileiros, portugueses, falantes e leitores da língua de Camões, acaba tendo para mim aquele ressaibo, que posso traduzir nestes termos: que pena o ex-aluno Merquior não poder prestar, com seus 75 anos de idade, sua homenagem certa à eterna e divina professora.   

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